Comunicação e biopotência da multidão: empoderamento entre estratégias de biopoder e práticas de biopolítica
Resumo
Este trabalho está orientado pela perspectiva comunitária da comunicação, compreendendo a relevância da participação crítica e ativa das pessoas no processo comunicativo. Sob esse viés, as pessoas e as coletividades são percebidas em primeiro plano, sendo as responsáveis pelas transformações sociais e culturais desejadas e por vezes necessárias. Para tanto, é preciso que estejam cientes de quem são e de sua realidade, empoderadas e conscientizadas, ou seja, capacitadas a refletir e agir em direção às mudanças, conforme propõe Paulo Freire. Seguindo por esta linha de pensamento, articulamos teoricamente a comunicação comunitária e o empoderamento. Apresentamos os estudos sobre biopotência e multidão, propostos pelos autores Peter Pelbart, Antonio Negri e Michael Hardt. Completamos o estudo de revisão bibliográfica com os conceitos de biopoder e biopolítica, cunhados por Michel Foucault. Por meio do estudo e da apreensão acerca do contexto teórico e prático exposto, buscamos refletir e analisar a seguinte problemática: como um ambiente midiático comunitário, em meio a estratégias de biopoder e práticas de biopolítica, oportuniza o empoderamento das pessoas envolvidas? Para tanto, a pesquisa investiga a questão por meio da observação do projeto Viva Favela (VF), do Rio de Janeiro – RJ, iniciativa que busca a participação ativa e continuada dos moradores dos locais nos quais atua, como forma de mostrar a eles o lugar no qual habitam e também repassar à sociedade e à imprensa uma visão real desses espaços. O percurso metodológico e a pesquisa empírica são orientados pela abordagem teórico-metodológica da Análise Crítica do Discurso proposta por Norman Fairclough. A análise inicia com a verificação da presença de dispositivos de biopoder e práticas de biopolítica no site do projeto VF, com a análise das páginas e dos links do portal. Na sequência, é feito o estudo das estratégias discursivas nos textos dos correspondentes comunitários, sendo verificadas marcas discursivas para inferir como o biopoder e a biopolítica se apresentam na forma de atuar das pessoas participantes do projeto. Dessa análise, observamos que o caso estudado apresenta-se fortemente envolvido a sistemas que imbricam dispositivos de biopoder, porém são percebidas também práticas biopolíticas por meio do compartilhamento de conhecimento, amplificando as realidades, experiências, conquistas e dificuldades que vivenciam os brasileiros moradores das comunidades e periferias do país. Vislumbramos a força que compreendemos obrigatória à prática da comunicação comunitária, ou seja, as pessoas que ali perpetuam o projeto, sua biopotência. Concluímos compreendendo que um ambiente midiático comunitário, em meio a estratégias de biopoder e práticas de biopolítica, oportuniza o empoderamento quando sua atuação está baseada em uma biopotência, no poder de vida dos sujeitos, fazendo com esta força vital transforme-se e reinvente sua forma de atuar, recrie caminhos e modos de se enunciar. Assim, não importam as relações de força, os tensionamentos de poder, pois atuando amparados na ação do comum, permitem sua ação, empoderam-se e se tornam “biopotentes”.
Coleções
Os arquivos de licença a seguir estão associados a este item: