A aprioridade do espaço no primeiro argumento da exposição metafísica (Crítica da Razão Pura, A23/B38)
Resumo
Esta dissertação tem por objetivo expor as controvérsias interpretativas sobre o primeiro argumento da aprioridade da representação do espaço na Crítica da Razão Pura. Kant, nessa obra, apresentou dois argumentos que visam provar a aprioridade da representação do espaço. Esses argumentos encontram-se na seção intitulada Estética Transcendental, seção da obra que visa descrever as contribuições a priori da sensibilidade no conhecimento humano de objetos. É na Estética Transcendental que encontramos a subseção que incumbe provar que a representação originária do espaço é uma intuição pura. Para tal intento, Kant formulou dois argumentos para provar que a representação originária do espaço é a priori, os dois primeiros argumentos; também, mais dois argumentos que objetivam provar que é uma intuição. Os dois primeiros argumentos foram objeto de diversas controvérsias e é sobre essas controvérsias que essa dissertação, mormente, se desenvolve. Primeiramente, apresento um modelo de interpretação bastante difundido desses argumentos, representado por Kemp Smith (1923). Esse autor considerava que o primeiro argumento para provar que a representação originária do espaço era insuficiente para tal prova, posto que comportava uma estrutura tautológica e, por isso, provava demais, assim sendo, afirmara que os dois argumentos constituíam uma única prova com dois passos. Contra essa interpretação se insurgiram as interpretações de Strawson (1966) e Allison (1983). Strawson (1966) afirma que o primeiro argumento para provar a aprioridade da representação originária do espaço apresenta uma condição pela qual somos capazes de reconhecer particulares sob conceitos gerais. Allison (1983) afirma que no primeiro argumento para aprioridade do espaço Kant está mostrando que o espaço é uma condição epistêmica necessária – um meio ou um veículo – para individuação de nossas percepções de objetos. Essa interpretação é possível a partir de uma leitura inusual de um termo usado no primeiro argumento: ‘außer’, termo que significa “fora”. Allison (1983) afirma que no primeiro argumento para provar a aprioridade da representação do espaço o termo ‘außer’ significa: “distinto”. A leitura de Strawson (1966) não é discordante com a de Allison (1983) nesse aspecto específico. Nesse sentido, ambos os autores tratam o primeiro argumento da aprioridade da representação do espaço como uma condição que nos permite individuar as representações que reportamos a objetos. Nesse ponto, suas interpretações são bem semelhantes, por essa razão, chamo essa exegese do primeiro argumento da aprioridade de modelo interpretativo Allison-Strawson. Warren (1999) recentemente apresentou uma interpretação que vai de encontro ao modelo interpretativo Allison- Strawson. Afirma que no primeiro argumento para provar a aprioridade da representação do espaço Kant dá um sentido espacial ao termo ‘außer’. Warren (1999) mostra como é possível essa leitura, ademais, como ela não comporta nenhuma tautologia e é mais adequada a própria literalidade do texto de Kant. É nessa celeuma que a presente dissertação é construída. No terceiro capítulo se endossa a leitura de Warren (1999) mostrando-a como uma leitura mais adequada para o primeiro argumento da aprioridade da representação do espaço na Crítica da Razão Pura.
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