Relação entre os padrões oceanográficos e as rotas migratórias de tartarugas marinhas
Resumo
As tartarugas marinhas realizam longas migrações no oceano durante todo seu ciclo de vida. O monitoramento desse ciclo e de sua complexidade espacial e temporal tem sido facilitado pela utilização de dados de telemetria e imagens. A telemetria é uma ferramenta que vem proporcionando o rastreamento dos movimentos das tartarugas marinhas e, ainda, possibilita a integração de dados oceanográficos nas análises, o que aumenta a compreensão sobre a ecologia e a distribuição espacial desses animais. Alguns estudos já utilizaram essa metodologia e demonstraram os padrões de deslocamento em diferentes regiões oceânicas. O presente estudo analisou as rotas percorridas por 31 tartarugas marinhas rastreadas na costa do Brasil e no interior do Oceano Atlântico Sul entre 2005 e 2009. Os indivíduos pertenciam a quatro diferentes espécies: Dermochelys coriacea (tartaruga de couro ou gigante), Caretta caretta (tartaruga cabeçuda ou mestiça), Eretmochelys imbricata (tartaruga de pente ou legítima) e Lepidochelys olivacea (tartaruga oliva). O trabalho estuda a relação entre os movimentos migratórios realizados (rotas pós-nidificação, deslocamento até áreas de alimentação e reprodução) e os processos e feições oceanográficas que ocorreram no período do rastreamento. A partir dos dados de localização geográfica fornecida por transmissores instalados no casco das tartarugas marinhas, foi possível calcular a velocidade de deslocamento dos indivíduos e buscar outras informações sobre o meio ambiente superficial marinho, como a temperatura da superfície do mar (TSM), a concentração de clorofila, as velocidades de corrente (derivadas das anomalias de altura da superfície do mar). Após a análise dos dados telemétricos e ambientais, concluiu-se que as feições oceanográficas são fatores importantes na determinação dos padrões de movimentação registrados e que os processos físicos como a variabilidade da TSM influenciam o deslocamento dos animais. Além disso, os destinos desses animais tenderam a ser para regiões costeiras com altas concentrações de clorofila (portanto ricas em fitoplâncton). A velocidade média de deslocamento dos indivíduos durante as rotas foi geralmente superior àquela das correntes atuantes, demonstrando que os animais nadam ativamente ao seu destino independente da velocidade e direção das correntes. As espécies tiveram estratégias de deslocamento similares, por exemplo as rotas das espécies C. caretta, E. imbricata e L. olivacea tiveram um padrão mais uniforme, persistente sobre a plataforma continental norte e nordeste do Brasil. Porém não se pode afirmar o padrão da espécie D. coriacea devido devido ao baixo número de indivíduos analisados mesmo que ambos foram significativamente dispersos. Os resultados obtidos aqui estão coerentes com a literatura pretérita, agregando novos conhecimentos sobre o comportamento de espécies de tartarugas marinhas que ocorrem no Oceano Atlântico Sul e sua relação com as condições ambientais durante seus deslocamentos no mar.
Coleções
Os arquivos de licença a seguir estão associados a este item: