Da ontologia à moral: o problema da conversão da liberdade nos escritos de Sartre
Resumo
O tema da conversão da liberdade está presente na obra de Sartre desde os seus escritos de
psicologia fenomenológica, perpassando a sua ontologia, e, com a publicação dos Cahiers
pour une morale (1983), é possível visualizar propriamente a sua tessitura moral. Assim, o
objetivo geral dessa tese consiste em resgatar a argumentação acerca dos resultados e
implicações morais da ontologia fenomenológica de Sartre, e sua compatibilidade com uma
descrição da existência moral tal como apresentada na obra acima referida. A partir disso,
examinaram-se e descreveram-se as bases fenomenológicas sobre as quais se assenta a sua
teoria da conversão da liberdade. Do mesmo modo, examinaram-se e descreveram-se os
aspectos fundamentais da ontologia de Sartre para estabelecer os elementos metaéticos nela
presentes.Isso, a partir de uma análise das negatividades e da disposição originária do Para-si
para a inautenticidade. Além disso, reconstruiu-se o problema das relações intersubjetivas, da
corporeidade e do projeto de ser, e suas implicações morais na passagem da inautenticidade
para a autenticidade. Com isso, pretenderam-se estabelecer os elementos capazes de fornecer
o que seria o sentido e a possibilidade da autenticidade tal como pretendida por Sartre. A
partir deles, foi defendida a tese de que a argumentação sartriana referente à conversão moral
da liberdade é compatível com as teses fundamentais de sua ontologia, e, consequentemente,
com a fundação do sentido moral da existência autêntica. A pesquisa foi realizada, em um
primeiro momento, mediante a análise e sistematização dos escritos de Sartre sobre psicologia
fenomenológica, bem como O ser e o nada (2005 [1943]), a publicação póstuma Cahiers
pour une morale (1983) e outros escritos. Em um segundo momento, foi analisada
bibliografia complementar que trata o tema da moralidade na filosofia de Sartre, além de
temáticas secundárias que dizem respeito diretamente ou indiretamente ao problema
levantado. Como resultados, podem-se destacar a prevalência da autonomia do plano
irrefletido e a disposição originária da consciência para a inautenticidade em toda sua
diversidade de formas. Além disso, destaca-se uma preocupação teórica constante nos escritos
de Sartre sobre a possibilidade de uma conversão reflexiva capaz de recuperar a consciência
de sua condição de queda na inautenticidade e de sua alienação, a qual adquire seu teor
propriamente ético somente nos Cahiers pour une morale (1983). Conclui-se que o sentido
do agir ético na obra de Sartre pressupõe uma conversão da liberdade que modifique a relação
do homem com o seu próprio projeto fundamental, com a sua própria contingência, com
relação a corporeidade, com relação ao mundo e com relação aos outros. Trata-se do outro
modo de ser da liberdade, isto é, a autenticidade como sentido do agir moral nos escritos de
Sartre.
Coleções
Os arquivos de licença a seguir estão associados a este item: