Projeto existencial, internação compulsória e uso de crack
Resumo
Com a presente dissertação, voltamos nossa atenção para a pessoa que passou pela experiência de internação compulsória devido ao uso de crack. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, situada na área da Psicologia Social, mais especificamente na Psicologia Social Crítica, devido ao potencial questionador e transformador que esta teoria fundamenta. Em consonância, lançamos mão da abordagem existencialista proposta por Jean-Paul Sartre, que situa o sujeito no mundo concreto e o compreende como construído social e historicamente, fundamentado em sua liberdade. O objetivo geral de nossa pesquisa é: compreender o projeto existencial de uma pessoa que viveu a experiência de internação compulsória devido ao uso de crack. Como objetivos específicos, destacamos: questionar o assujeitamento relacionado às pessoas que fazem uso de crack; analisar o efeito do discurso de terceiros sobre o discurso da pessoa internada compulsoriamente devido ao uso de crack; identificar os processos de exclusão de pessoas que fazem uso de crack imbricados no sistema neoliberal. A dissertação é composta por dois manuscritos que exploram, por ângulos diferentes, mas complementares, o fenômeno do consumo de crack e da internação compulsória. O primeiro deles, intitulado “O olhar da Medusa: reflexões sobre o uso de crack e a internação compulsória”, trata-se de um ensaio teórico-crítico sobre o dispositivo de internação compulsória e o uso de crack, através de uma analogia com o mito da Medusa. O segundo manuscrito, “A faculdade foi a melhor coisa que eu inventei pra fugir do crack’: notas sobre projeto existencial”, visa compreender o projeto existencial de uma pessoa que passou pela experiência de internação compulsória devido ao uso de crack, quando utilizamos entrevistas em profundidade para (re)construir uma narrativa da história da vida de uma pessoa que vivenciou o fenômeno estudado. A título de conclusão, fica evidente a necessidade da constante reflexão acerca do uso de drogas, para além do crack apenas, como um meio de desconstruir relações de exclusão e possibilitar um acesso adequado à saúde àqueles que assim desejarem. Além disso, a internação compulsória pode restringir as possibilidades daquele que é internado, sem resultar em uma “cura” para o uso de crack. O caminho mais efetivo para a redução ou cessamento do consumo é a redução de danos, respeitando o desejo e as possibilidades do sujeito.
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