O conceito de (multi)letramentos subjacente às atividades pedagógicas produzidas para uma unidade didática em um programa de formação continuada na escola pública
Resumo
Trabalhar com multiletramentos é abordar a diversidade cultural e a multiplicidade semiótica (ROJO, 2012). Partindo desse pressuposto, o presente trabalho tem como objetivo analisar em que medida o conceito de (multi)letramentos subsidia as atividades pedagógicas de uma unidade didática produzidas em um programa de formação continuada.O referido programa foi desenvolvido em uma escola pública de Santa Maria (RS), por meio de uma pesquisa colaborativa (MAGALHÃES, 2002).O projeto teve como objetivo permitir a reflexão crítica e colaborativa entre professores dessa escola, estudantes e pesquisadores da UFSM, visando discutir a (re)construção de suas práticas sociais e, no final, a produção de um caderno didático. O corpus desta investigação é composto por uma unidade didática do referido caderno. Levamos em consideração que o termo Multiletramentos refere-se a dois grandes aspectos de produção de sentido: a) a diversidade social, que parte das culturas, da referência do aluno e do contexto social em que ele está inserido; b) a multimodalidade, no qual o multiletramento se caracteriza pelo uso e trabalho com as tecnologias, mídias, gêneros e linguagens usadas nestes contextos (KALANTZIZ; COPE, 2012, p.1). Os resultados indicam que no que concerne à análise do conceito de letramento subjacente às atividades, identificamos uma recorrência maior de atividades que exploram o letramento como processamento cognitivo (76,3%), seguido de atividades que focalizam a leitura crítica de mundo (23,7%). Essa organização retórica parece representar um processo cíclico constituído por atividades que exploram o desenvolvimento de competências cognitivas que correspondem, inicialmente, a níveis mais complexos, preparando a aluno para que ele faça o reconhecimento do universo temático do texto e então se posicione, ainda que timidamente, sobre o tema a partir de níveis mais e menos complexos das capacidades de leitura de mundo. Em virtude disso, há um movimento de “sanfona”, no qual as competências se intercalam em níveis diferentes de complexidade e capacidades cognitivas e de leitura crítica. Já nos resultados da análise de como os enunciados exploram as imagens, identificamos que a metafunção mais explorada é a representacional (77%). A unidade deixa a desejar em relação à exploração das demais metafunções (Interativa, 13%, e Composicional, 10%). Desse modo, os alunos são levados a olhar ideacionalmente para os textos não verbais, analisando as ações, eventos, participantes e circunstâncias constituídos nas/pelas imagens.Além disso, identificamos, na unidade, uma preocupação em propor atividades que trabalhassem contextos culturais, sociais e multimodais de uma maneira geral, embora também tenhamos percebido que algumas atividades ainda explorem os multimetramentos de maneira tímida e limitada. Finalmente, procuramos propor algumas atividades complementares às propostas na referida unidade para aqueles aspectos dos multiletramentos que foram mais timidamente explorados, como forma de contribuir para que as discussões sobre a necessidade de expandirmos a prática dos multiletramentos nos contextos escolares.
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