Mulheres e consumo de crack: experiências de internação compulsória
Resumo
O uso de drogas é tão antigo quanto a humanidade, embora assuma diferentes configurações e
efeitos de acordo com o contexto, com a droga utilizada, com as normas sociais e com os
agentes de uso. A relação dos seres humanos com as drogas tem sido permeada por conflitos e
ambiguidades. As pessoas que fazem uso de crack vêm se tornando alvos de internações
forçadas. O consumo de crack, seus efeitos e suas consequências têm sido pauta de reflexões e
pesquisas nas ciências, nas mídias e na esfera do Estado. O consumo desta substância abarca
pessoas de diferentes gêneros. Considerando que o consumo pode assumir efeitos específicos
quando envolve mulheres, nessa pesquisa atentaremos para as que foram internadas
compulsoriamente devido ao consumo do crack. Partimos da perspectiva da Psicologia Social
Crítica e de uma construção teórica sustentada na Teoria das Representações Sociais (TRS) e
nos Estudos de Gênero para refletir sobre as experiências de mulheres que passaram pelo
processo de internação compulsória. A partir da sustentação teórica, tivemos como objetivo
geral refletir como as experiências de internação compulsória devido ao consumo de crack
(re)constróem e transformam relações e saberes de mulheres no seus cotidianos. Também nos
interessou conhecer como representações acerca das drogas e das mulheres produzem certas
práticas de cuidado em saúde. Especificamente, nos interessou problematizar as iniquidades de
gênero e sua interface com o consumo de drogas por mulheres, voltando a atenção às
iniquidades e violências de gênero. Para contemplar os objetivos, realizamos entrevistas
narrativas com mulheres que foram internadas compulsoriamente devido ao consumo de crack
via 4ª Coordenadoria Regional de Saúde (CRS) do Rio Grande do Sul, Brasil. Também
realizamos consulta a fontes documentais e anotações em diário de campo sobre o processo de
pesquisa, incluindo as observações feitas durante os contatos e reuniões com a 4ª CRS. A
dissertação está composta por um capítulo teórico e dois textos. O capítulo intitulado
“Apresentando a Teoria das Representações Sociais: sua proposta e alguns conceitos” revisita
a TRS com a intenção de apresentar a teoria que sustenta a pesquisa. O primeiro texto é
intitulado “Consumo de crack, mulheres e internação compulsória: reflexões sobre saberes” e
visa refletir sobre a (re)construção e (trans)formação de saberes a partir de experiências de
internação compulsória de mulheres devido ao consumo de crack. O segundo texto, “Violências
de gênero: experiências de mulheres que consomem crack”, buscou visibilizar e problematizar
violências de gênero vivenciadas pelas participantes. A título de conclusão, destaca-se a
necessidade de considerar os saberes das pessoas que fazem uso de crack, como forma de
construir um caminho mais efetivo para o cuidado em saúde, alternativo à internação
compulsória. Além disso, a relevância da constante reflexão acerca das representações sobre
mulheres que fazem uso de crack pode ser um meio de desnaturalizar violências de gênero.
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