Análise genética em grupos mistos de bugio-ruivo e bugio-preto (Alouatta guariba clamitans e Alouatta caraya) em uma zona de contato em São Vicente do Sul, Rio Grande do Sul
Resumo
Existem diversos relatos de zonas de contato entre duas espécies de primatas do gênero Alouatta, em alguns poucos casos, formando grupos mistos. A variação morfológica causada pelo fluxo gênico em primatas híbridos ainda não foi bem compreendida. Sendo assim, é importante a realização de estudos para determinar a presença de indivíduos híbridos. Uma zona de contato descrita no sul do Brasil, conta com a presença de possíveis híbridos de A. caraya e A. g. clamitans. Com isso, o objetivo deste estudo foi: verificar a frequência de grupos mistos de Alouatta caraya e Alouatta guariba clamitans; com o auxílio de marcadores moleculares (fragmento do Cytb) comparar geneticamente indivíduos puros com os que possuam características morfológicas descritas para possíveis híbridos; com marcadores maternos e nucleares de indivíduos híbridos, determinar a direção preferencial da fertilidade; e realizar a análise de fragmentos nucleares (Íntron 3 do gene MECP2) clivados com a enzima de restrição BspLI - CAPS comparando os fragmentos correspondentes para cada espécie com os resultados obtidos com as análises do DNA mitocondrial e o fenótipo. A área de estudo é composta pela mata ciliar do rio Ibicuí e seus afluentes que fazem parte do bioma Pampa. As amostragens de campo ocorreram mensalmente no ano de 2016. As buscas foram realizadas com base no levantamento extensivo em fragmentos de mata e trechos de mata ciliar previamente definidos. Os indivíduos localizados foram fotografados sempre que possível e tiveram suas fezes coletadas para a realização das análises moleculares. Foram identificados 22 grupos, sendo quatro grupos contendo apenas indivíduos com fenótipo de A. caraya; 12 grupos contendo apenas indivíduos com fenótipo de A. g. clamitans e seis grupos de composição mista. O DNA mitocondrial foi amplificado em 22 amostras e 18 amostras amplificaram DNA nuclear, sendo que 16 amostras amplificaram os dois marcadores. Os marcadores de DNA nuclear, após serem submetidos ao procedimento de clivagem (CAPS), demonstrou que sete amostras correspondem com A. caraya, destas seis possuíam o genótipo mitocondrial de A. caraya. Cinco amostras apresentaram o genótipo nuclear de A. g. clamitans, sendo três com genótipo mitocondrial de A. caraya, uma com genótipo mitocondrial de A. guariba, e em outra o genótipo mitocondrial não foi acessado. Cinco amostras foram identificadas como pertencentes a indivíduos heterozigotos e correspondiam a padrões de coloração identificados como híbridos. A análise do polimorfismo do Íntron 3 do gene MECP2, em indivíduos heterozigotos, apresentou sítios de clivagem esperados tanto apara A. caraya quanto A. g. clamitans. Indivíduos com marcadores nucleares de A. g. clamitans juntamente com marcadores mitocondriais de A. caraya, indica que em certo grau há viabilidade dos indivíduos híbridos. Este estudo fornece novas evidências: geneticamente a hibridação entre Alouatta caraya e A. g. clamitans, este resultado irá favorecer novos ramos de estudo (ecológicos, genético/evolutivos, comportamentais, conservação, etc.) com as espécies envolvidas; a viabilidade de fêmeas híbridas; e a direção preferencial do cruzamento entre as espécies parentais.
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