Paleoneurologia de antifer (mammalia: cervidae), um cervídeo extinto da América do Sul
Resumo
Os Cetartiodactyla terrestres surgiram na América do Norte e Europa durante o
Eoceno inicial e irradiaram-se, dando origem, dentre outros, aos Ruminantia – onde
está incluído o grupo Cervidae. O clado Cervidae atualmente divide-se em Cervinae,
cervídeos europeus e asiáticos, e Capreolinae, os cervídeos americanos. A formação
do Istmo do Panamá (Plioceno final) possibilitou a troca biótica entre os continentes
da América do Norte e Central, e a América do Sul, onde os cervídeos capreolíneos
Odocoileini irradiaram-se rapidamente após seu ingresso no continente. A
paleoneurologia é um ramo da paleontologia que se dedica ao estudo da evolução
neurológica através do tempo. Utilizando técnicas de tomografia computadorizada, é
possível acessar a morfologia endocraniana de espécies extintas. Na presente
dissertação, estudamos moldes endocranianos do encéfalo do cervídeo extinto Antifer
ensenadensis (Pleistoceno final), uma das maiores formas que viveram neste
continente. Para isso, espécimes provenientes da Formação Touro Passo
(Pleistoceno Superior), oeste do Rio Grande do Sul, foram tomografados e modelos
virtuais da cavidade endocraniana foram gerados. Como metodologia, foi utilizada
morfologia comparada com outros cervídeos, morfometria geométrica e coeficiente de
encefalização. Os moldes endocranianos analisados demonstram que A.
ensenadensis possuiu um cérebro girencefálico, possuindo o seio sagital superior
saliente na superfície do molde endocraniano, além de ser anteroposteriormente
alongado e com formato romboide. A análise de morfometria geométrica sugeriu uma
tendência alométrica linear entre o tamanho e a forma do molde endocraniano
cerebral e destaca A. ensenadensis como uma forma extrema dentro dos cervídeos
analisados, em relação à morfologia cerebral. O coeficiente de encefalização de
Antifer ensenadensis (0.68, Jerison, 1973; 0.63, Eisenberg, 1981) está dentro da
variação dos cervídeos atuais (0.64 – 1, Jerison, 1973; 0.60 – 1.06, Eisenberg, 1981)
– sugerindo que o padrão de encefalização das formas sul-americanas já estava
estabelecido pelo menos desde o final do Pleistoceno.
Coleções
Os arquivos de licença a seguir estão associados a este item: