Estupro culposo: uma análise dos atravessamentos entre os discursos jurídico, jornalístico e midiático
Resumo
Esta pesquisa objetiva analisar os discursos produzidos a partir do caso Mariana Ferrer na perspectiva dos atravessamentos entre os discursos jurídico, jornalístico e midiático e os seus efeitos de sentido, tendo como ponto de partida a sentença prolatada pelo Juiz no processo judicial, a reportagem publicada pelo The Intercept Brasil (TIB) logo após a publicização da sentença e postagens nas redes sociais digitais Instagram e Twitter. Possui como problema o seguinte questionamento: quais são os efeitos de sentido decorrentes dos atravessamentos entre os discursos jurídico, jornalístico e midiático, considerando principalmente a hashtag EstuproCulposoNaoExiste? Baseando-se nos fundamentos teóricos da Análise de Discurso, partindo dos estudos de Foucault (2009), Pêcheux (2008), Orlandi (2000) e Fernandes (2008), centrando-se na relação entre discurso e acontecimento, a pesquisa possui, como objetivos específicos: a) analisar o discurso jurídico a fim de indagar se o Magistrado reproduz institucionalmente a violência histórica de gênero contra as mulheres numa relação interdiscursiva vinculada a uma sociedade patriarcal; b) analisar os discursos jornalístico e midiático, considerando-se as diferenças no seu funcionamento; e c) compreender os efeitos de sentido, a partir dos atravessamentos entre os discursos jurídico, jornalístico e midiático, considerando a repercussão da hashtag EstuproCulposoNaoExiste. Para responder à problemática e atingir seus objetivos, a pesquisa apresenta as noções de discurso midiático, na sociedade em midiatização, caracterizado pela dessacralização da fala dos enunciadores (RODRIGUES, 2015), já que em teoria está aberta a todos; de discursivo jornalístico, considerado como um discurso sobre; e de discurso jurídico, em sua tentativa de controle por meio do ritual. Em seguida, interpreta sequências discursivas extraídas dos referidos textos na perspectiva da Análise de Discurso. Tal estudo se justifica na medida em que pretende provocar deslocamentos na área da comunicação, levando essa área a pensar além do jornalístico/midiático, destacando a necessidade que o jornalista possui de conhecer outras áreas além da sua formação ao escrever sobre elas, como, por exemplo, a área do direito. Por fim, conclui-se que os discursos jurídico e jornalístico analisados, ambos permeados pela vontade de verdade, encontram-se em formações discursivas diferentes, o que produz o conflito entre eles. Já o discurso midiático, por seu caráter exotérico (RODRIGUES, 2015), acaba por permitir um maior atravessamento entre os discursos jurídico e jornalístico, por meio do mecanismo do compartilhar, disponível nas redes sociais digitais. Os diferentes discursos se relacionam de diferentes maneiras, como afirma Orlandi (2000). Essas relações podem ser de exclusão, inclusão, oposição, dentre outras. Constatou-se, na análise realizada, essas diferentes relações, visto que esses discursos acabaram por se atravessar, principalmente no discurso midiático, que parece resgatar/unir/relacionar os outros dois. O caso Mariana Ferrer, a partir do enunciado “estupro culposo”, ilustra, além de um acontecimento histórico, um acontecimento jurídico, jornalístico e midiático.
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- TCC Jornalismo [71]
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