Indicadores biológicos de exposição a solventes orgânicos e sua inter-relação com o estresse oxidativo
Abstract
O uso de solventes orgânicos no meio ocupacional representa significativo risco à saúde do trabalhador. Os pintores compõem, dentre outros, um grupo de indivíduos
ocupacionalmente expostos aos solventes, através da via respiratória e dérmica. A monitorização de indicadores biológicos de exposição (IBE) pode assegurar, em longo
prazo, o não aparecimento de doenças crônicas ocupacionais. Desta forma, objetivou-se otimizar e validar uma metodologia utilizando cromatografia líquida de alta eficiência com
detector ultravioleta (CLAE-UV), para a quantificação simultânea dos seguintes IBE: ácidos hipúrico (HA), 3-metilhipúrico (3mHA), mandélico (MA) e fenilglioxílico (PGA) em urina, dos solventes tolueno, xileno, estireno (MA e PGA) e etilbenzeno (MA) respectivamente. Além disso, existem relatos de que solventes orgânicos, dentre muitos outros agentes, ocasionam desequilíbrio nas defesas pró- e antioxidantes do organismo, ocasionando danos à saúde
dos trabalhadores devido ao estresse oxidativo. Portanto, quantificou-se alguns biomarcadores sangüíneos do estresse oxidativo, verificando-se sua possível relação com
os níveis dos indicadores biológicos em pintores (n=50) de uma indústria da cidade de Caxias do Sul, RS, comparando-os com os indivíduos não expostos ocupacionalmente.
Assim, os biomarcadores analisados foram: antioxidantes endógenos como a glutationa reduzida (GSH), as enzimas superóxido dismutase (SOD), catalase (CAT) e glutationa
peroxidase (GPx); antioxidantes exógenos como as vitaminas C e E; e os biomarcadores de oxidação, no caso da peroxidação lipídica, o malondialdeído (MDA), e da oxidação de
proteínas, as proteínas carboniladas (PCO). Os parâmetros analíticos de validação foram linearidade, precisão, exatidão,
recuperação e limites de detecção (LD) e quantificação (LQ). Para todos os IBE analisados, os coeficientes de regressão linear > 0.99; CV% < 6%; bias% < ±10; recuperação > 95%,
LD entre 0,001 a 0,009 g.L-1 e LQ de 0,04 a 0,02 g.L-1. Na aplicação do método validado, das amostras de indivíduos expostos (n=50), todos apresentaram concentração urinária de HA; 2,5% destes, acima dos valores de referência (VR) e apenas 8% destes, apresentaram valores acima do índice biológico máximo permitido (IBMP). Foram encontrados mHA em
96%, PGA em 30%, e MA em 26% das amostras analisadas, sendo estes valores, todos abaixo do IBMP. Dentre os indivíduos não expostos (n=30), somente HA foi encontrado, os valores foram de 0,058 0,23 g/g de creatinina urinária.
Quanto aos biomarcadores do estresse oxidativo, os níveis de MDA plasmático e de PCO sérica foram significativamente aumentados comparados aos controles (p<0,01). Os
níveis de GSH eritrocitária (p<0,05); SOD, CAT e GPx (p<0,001) sangüíneas também foram significativamente aumentados, demonstrando um aumento no sistema antioxidante em resposta aos efeitos deletérios da exposição às tintas. Os níveis de antioxidantes exógenos, vitamina C e vitamina E estavam significativamente diminuídos nestes indivíduos (p<0,05) quando comparados aos controles. Além disso, foi observada correlação entre os biomarcadores do estresse oxidativo e os IBE. O ácido mandélico urinário, indicador de exposição ao estireno e ao etilbenzeno, apresentou correlação positiva com as enzimas SOD e CAT, e com o MDA (p<0,01), e uma correlação negativa com a vitamina E (p<0,05). O ácido hipúrico urinário apresentou correlação positiva com os níveis sangüíneos de GPx
(p<0,001). Além disso, foi encontrada correlação positiva entre MDA e PCO (p<0,001); e correlação negativa das PCO com GPx, com vitamina C e E (p<0,05). Os resultados da validação metodológica demonstraram linearidade, precisão e
exatidão, permitindo concluir que o método é confiável para quantificar os indicadores biológicos de exposição, HA, mHA, MA e PGA, simultaneamente. Além disso, os níveis dos
IBE mostraram-se quase que na sua totalidade, dentro dos índices biológicos máximos permitidos. Os biomarcadores do estresse oxidativo relacionados com a peroxidação lipídica
e com a oxidação de proteínas apresentaram-se significativamente aumentados mesmo com um aumento dos antioxidantes endógenos analisados, GSH, SOD, CAT e GPx. Por outro lado, observou-se uma depleção dos antioxidantes vitamínicos exógenos, como as vitaminas C e E. Assim, com este trabalho é possível sugerir que os IBMP, para os IBE dos
solventes orgânicos tolueno, xileno, estireno e etilbenzeno analisados, não asseguram o equilíbrio antioxidante/oxidante nos trabalhadores expostos.