Linguagem gauchesca: história, memória e tradição no Rio Grande do Sul
Resumo
Esta tese versa sobre a constituição de uma linguagem gauchesca a partir do funcionamento
semântico da palavra tradição presente em textos que constituem discursos sobre o gaúcho e que
integram um conjunto de materialidades produzidas na linguagem gauchesca, constituída e
representada em diferentes textualidades do discurso publicitário, para demonstrar como essa
linguagem se constitui, se sustenta e se mantém pela tradição e de que forma essa mesma tradição,
que é recorrente no discurso sobre o tipo social gaúcho, determina a linguagem gauchesca.
Buscamos, pela perspectiva teórica da Semântica do Acontecimento, do linguista Eduardo Guimarães
(2002), analisar o funcionamento da língua no acontecimento da enunciação. Assim, a língua é
pensada em seu funcionamento, logo, é um já-dito que se repete, mas que é articulado a outros
dizeres, outros enunciados. A palavra tradição é em si um acontecimento porque carrega a história e
significa segundo o lugar do dizer. Para tanto, consideramos a designação da palavra tradição, ou
seja, a relação dessa palavra com outras no enunciado que leva à produção de sentidos outros.
Esses enunciados marcados linguisticamente como do gaúcho são configurados como um discurso
sobre o gaúcho, que afirma uma identidade regional, a qual autoriza o gaúcho a estar inserido numa
cultura nacional. Esse discurso se enuncia tanto nos dizeres na língua como sobre a língua e constitui
um dizer sobre o gaúcho que é um dizer na linguagem gauchesca. A análise do funcionamento
semântico das designações sobre a qual se procedeu a análise do Domínio Semântico de
Determinação da palavra tradição, expôs por meio dos procedimentos de articulação e
reescrituração, como a palavra tradição se articula e se reescreve estabelecendo distintas relações
com outras palavras e com outros enunciados, a fim de compreender o que designa e que sentidos
ela mobiliza no conjunto de textualidades estudadas. Dentro deste quadro teórico-metodológico, as
categorias analíticas revelam o funcionamento semântico da palavra tradição através dos
procedimentos de reescrituração e de articulação, que caracterizam, conforme indicado por
Guimarães (2005), modos diferentes de ocorrência de funcionamentos semânticos. Os dizeres
observados nas sequências enunciativas configuram um espaço de enunciação em que a
significação é produzida pela constituição de discursos sobre e na linguagem gauchesca, produzindo
uma especificação que determina essa linguagem. Portanto, a linguagem gauchesca significa por
aquilo que designa. Uma significação particular e regional que proporciona a produção de um saber
sobre a língua regional referendado pela reunião de um conjunto de textualidades que constituem
dizeres sobre o gaúcho que atualizam a memória discursiva e constroem um modo de conhecimento
sobre a língua falada pelo sujeito gaúcho. Por isso dizemos que o funcionamento da palavra tradição
dentro da linguagem gauchesca não é estático, homogêneo, com sentidos definitivos. A linguagem
gauchesca quando funciona é um acontecimento que coloca esse sujeito gaúcho em evidência. É um
modo de dizer (dizer na e dizer sobre) que significa o gaúcho e é constitutiva desse sujeito nas suas
relações sociais. Logo, por sua especificidade e particularidade, a linguagem gauchesca é um modo
de aproximação do sujeito gaúcho com a tradição.
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