Citocinas inflamatórias na urina como indicadores de dano renal em pacientes com diabetes mellitus tipo 2
Resumo
A doença renal do diabetes (DRD) é uma complicação microvascular altamente prevalente em pacientes com diabetes mellitus (DM) e representa a principal causa de doença renal em estágio final na maioria dos países. Até o presente momento, a excreção urinária de albumina (EUA) é um dos marcadores mais utilizados na prática clínica para avaliação do dano renal. No entanto, muitos pacientes diabéticos podem desenvolver DRD mesmo quando os níveis urinários de albumina ainda estão dentro da normalidade. Neste contexto, existe a necessidade de identificar biomarcadores mais sensíveis, específicos e com maior poder preditivo que a EUA. Algumas observações clínicas têm suportado a hipótese de que o processo inflamatório renal contribui para o desenvolvimento e para a progressão da DRD, e que a excreção urinária de marcadores inflamatórios pode ser útil na avaliação do dano renal. Desta forma, este estudo visa avaliar a concentração urinária das citocinas inflamatórias interleucina 1 (IL-1), interleucina 6 (IL-6), interleucina 10 (IL-10), fator de necrose tumoral α (TNF-α) e interferon gama (IFN-γ) na identificação da DRD e suas associações com o dano renal em pacientes com DM tipo 2. Foi realizado um estudo transversal prospectivo incluindo pacientes admitidos no Ambulatório do serviço de Endocrinologia e Metabolismo do Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM) com diagnóstico de DM tipo 2. Nestes pacientes, foi avaliada a concentração urinária das citocinas inflamatórias (IL-1, IL-6, IL-10, TNF-α e IFN-γ), a razão albumina/creatinina urinária (uACR) e os níveis urinários de lipocalina associada à gelatinase de neutrófilos (uNGAL). Além disso, foram avaliadas características clínicas dos pacientes do estudo e biomarcadores séricos/plasmáticos associados ao perfil lipídico e ao controle glicêmico. Os níveis urinários das citocinas pró-inflamatórias (IL-1, IL-6, TNF-α e IFN-γ) foram mais elevados nos pacientes com DRD, enquanto que as concentrações urinárias da citocina anti-inflamatória IL-10 foram menores neste grupo, em comparação com os pacientes sem DRD. Foi demonstrado que todas as citocinas inflamatórias urinárias estudadas apresentam boa capacidade na identificação da DRD entre os pacientes com DM tipo 2 (áreas sob a curva ROC superiores à 0,9). Ao estratificar os pacientes de acordo com as faixas de albuminúria (uACR < 10 mg/g creatinina, uACR 10–30 mg/g de creatinina e uACR > 30 mg/g creatinina) foi possível observar alterações nos níveis de IL-6 e IL-10 no grupo com uACR 10–30 mg/g de creatinina. Isto sugere que os marcadores inflamatórios estão alterados mesmo em uma faixa de EUA considerada como normoalbuminúria. Além disso, foi demonstrada uma associação entre os níveis das citocinas inflamatórias urinárias IL-6, IL-10 e TNF-α e os biomarcadores associados com a patogênese e a progressão da DRD em relação ao dano glomerular (uACR) e tubular (uNGAL). Estes resultados indicam que as citocinas inflamatórias urinárias podem ser biomarcadores úteis na avaliação da DRD, possuindo potencial para a utilização na prática clínica.
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