Câncer de tireoide: avaliação da atividade de enzimas do sistema purinérgico, butirilcolinesterase e perfil oxidativo
Resumo
O câncer de tireoide é a neoplasia endócrina mais comum, cuja incidência vem aumentando nos últimos anos. A
melhor compreensão dos eventos moleculares envolvidos na progressão do câncer de tireoide pode auxiliar na
identificação de pacientes com carcinomas de baixo e alto risco. Dentre os mediadores capazes de modular
processos imunes, tais como a diferenciação celular, destacam-se o ATP, o ADP, o AMP e a adenosina, cujas
concentrações extracelulares são controladas pela atividade das ectoenzimas ectonucleosídeo trifosfato 5'-
difosfoidrolase (E-NTPDase), E-5’-nucleotidase (E-5’-NT) e adenosina desaminase (ADA), e que agem em
receptores específicos, formando o sistema purinérgico. É bem conhecida a relação entre as espécies reativas de
oxigênio (EROs) e câncer, na qual as EROs podem contribuir para a transformação neoplásica de células. As EROs
são normalmente produzidas por processos oxidativos metabólicos e as moléculas frequentemente danificadas por
elas são lipídios, proteínas e o DNA. Os sistemas de defesa antioxidante trabalham cooperativamente para aliviar
o estresse oxidativo causado pela produção aumentada das EROs. Qualquer alteração em um desses sistemas pode
quebrar esse equilíbrio e causar dano celular e, em última instância, transformação maligna. Além disso, a
butirilcolinesterase (BChE) parece desempenhar funções não-colinérgicas importantes, pois é capaz de intervir em
processos celulares como a proliferação, diferenciação e apoptose, o que sugere uma possível influência na
tumorigênese. O objetivo desse trabalho é a melhor compreensão dos processos moleculares que ocorrem durante
a progressão do câncer de tireoide, visando a identificação de possíveis novos alvos terapêuticos. Para tanto,
investigamos o perfil de sinalização purinérgica em pacientes com câncer de tireoide através da determinação, em
plaquetas, da atividade das enzimas E-NTPDase e E-5’-NT, além da determinação em plaquetas e no soro da
atividade da E-ADA, por espectrofotometria, além do perfil oxidativo, através da dosagem dos níveis de EROs e
da avaliação da intensidade do dano biológico causado por eles em lipídios e proteínas, através da determinação
da peroxidação lipídica e dos níveis de carbonilação de proteínas. Adicionalmente, verificamos o perfil
antioxidante dos pacientes com câncer de tireoide, através da determinação dos níveis de tióis totais (T-SHs) e
glutationa reduzida (GSH). A atividade sérica da BChE também foi determinada. Observamos uma significativa
redução da atividade da E-NTPDase, tanto na hidrólise do ATP quanto na do ADP. Esses resultados sugerem um
aumento da concentração de ATP como consequência de um mecanismo de autoproteção, e ADP, favorecendo
alterações tromboembólicas. Contudo, foi observado um significativo aumento da atividade da E-5’-NT, que
associada à redução da atividade da ADA, tanto nas plaquetas quanto no soro, conduzem ao aumento da
concentração extracelular de adenosina, a qual pode estar envolvida no processo de progressão tumoral. Quanto
ao perfil oxidativo, observamos um significativo aumento dos níveis de EROs, que associado a ausência de um
aumento concomitante das defesas antioxidantes representadas pelo níveis de T-SHs e GSH, geram um ambiente
pró-oxidante que justifica o aumento dos níveis de substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico (TBARS)
observados. O aumento significativo da atividade da BChE pode estar relacionado ao estágio de progressão
tumoral, visto que os pacientes do estudo apresentavam nódulos pronunciados indicando um estágio mais
avançado do câncer. Os resultados descritos demonstram que, durante a progressão do câncer de tireoide, ocorrem
alterações tanto na atividade das enzimas do sistema purinérgico e colinérgico quanto no perfil oxidativo desses
pacientes. Portanto, tais parâmetros podem representar futuros alvos para a terapia e monitoramento da evolução
dessa neoplasia.
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