Suplementos alimentares comercializados no Brasil: uma abordagem rotular, analítico e toxicológica
Resumo
O consumo de suplementos alimentares vem crescendo mundialmente, levando a
faturamentos bilionários a cada ano. Devido à grande demanda, a Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou o marco regulatório dos suplementos alimentares a fim
de regularizar, padronizar e diminuir os entraves legais destes produtos. Dessa forma, o
presente trabalho teve por objetivo elencar e adquirir produtos comercializados como
suplementos alimentares, para a realização de uma análise regulatória, avaliação das suas
composições nutricionais e não nutricionais, investigação da presença de adulterantes e
realização de um estudo toxicológico. Com isso, foram adquiridas 44 amostras de
suplementos alimentares em lojas virtuais brasileiras. Dessas, 97,7% estavam irregulares
quanto as alegações atribuídas e 34,2% não poderiam ser comercializadas como suplementos
alimentares devido aos ingredientes declarados. Quanto a composição centesimal 20 amostras
(45,54%) continham as informações nutricionais obrigatórias nos rótulos e dessas, 70% (n =
14) apresentavam valores de nutrientes acima da tolerância permitida pela legislação. Para a
investigação da presença de adulterantes em suplementos alimentares, foi proposto um
método por HPLC-DAD para a determinação de 10 substâncias não permitidas, com tempo de
análise inferior a cinco minutos. O método proposto foi validado de acordo com as diretrizes
da AOAC e Anvisa e representou uma economia de 40% quando comparado a outros métodos
convencionais, sendo que o gasto estimado para análise foi de US$ 7,00 para cada amostra.
Das 44 amostras analisadas, sete (15,90%) continham pelo menos um adulterante, como
diuréticos, estimulantes sexuais e anabolizantes. Os suplementos adulterados possuíam
características comuns entre si, como comercialização em mercado negro, matéria-prima ou
produto de origem importada, ausência de informações nos rótulos e alegações que induziam
a presença de substâncias farmacológicas. Posteriormente, foi realizado um estudo de
predição in silico dos adulterantes a fim de comparar com os resultados da citotoxicidade in
vitro e, dessa forma, poder inferir se a presença das substâncias encontradas é fator
determinante para aumento da toxicidade dos suplementos alimentares. Apesar da necessidade
de maiores estudos com relação a matriz das amostras, os resultados indicam que há uma
relação entre os multiigredientes declarados nas amostras e os adulterantes encontrados,
quanto à citotoxicidade. Todas as sete amostras estudadas apresentaram efeitos citotóxicos
por diferentes mecanismos e proporcionais à concentração. Foram observadas diminuição de
viabilidade celular, hemólise célula aumento significativo na liberação de espécies reativas de
oxigênio. A partir da publicação do marco regulatório as indústrias têm cinco anos para se
adaptarem as novas regras. Contudo, espera-se que os resultados aqui demonstrados sirvam de
alerta, tanto para as agências regulatórias quanto para os consumidores, principalmente em
relação aos produtos vendidos de forma irregular, ou que apresentam alguma não
conformidade em seu rótulo, ou até mesmo na sua composição. A presença de adulterantes
em suplementos alimentares é um grave problema de saúde pública, que pode acarretar em
danos irreversíveis à saúde da população.
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