Com a bexiga perto dos olhos - A forma humorada de narrar o triste nas autobiografias de Frank McCourt
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Data
2020-02-27Primeiro membro da banca
Izarra, Laura Patricia Zuntini de
Segundo membro da banca
Gai, Eunice Terezinha Piazza
Terceiro membro da banca
Montemezzo, Luciana Ferrari
Quarto membro da banca
Mathias, Dionei
Metadata
Mostrar registro completoResumo
Este trabalho investiga o humor em As cinzas de Ângela – memórias (1996) e ‘Tis: a memoir (1999), autobiografias do americano-irlandês Frank McCourt. Nas obras de McCourt, o narrador ora participa dos acontecimentos como testemunha, ora protagoniza os eventos narrados. Os fatos escolhidos pelo narrador seguem a ordem cronológica da infância de McCourt, e são, na maioria das vezes, fatos que exprimem desconforto. São traços constantes na narrativa autobiográfica de McCourt a resistência contra a fome, o afeto entre ele e os irmãos, o desejo de sobrepor-se à miséria e de estabelecer um lugar no mundo através da aquisição de cultura, e a forma humorada com que registra seu passado. A liberdade da forma narrativa que reúne em uma mesma sentença diferentes tempos e diferentes pessoas do discurso combina com a liberdade de conteúdo estabelecida pelo escritor, em que uma história triste é permeada de comicidade. Ele narra com olhos de crítico, relativiza normas e verdades sociais, e expõe a estupidez social em que cresceu. O ponto de vista é o de Frank adulto, do homem maduro que volta às “cenas” de sua juventude marcantes para a constituição de sua personalidade, e as conta sem autopiedade. O que ele relata é importante na construção de sua identidade, ou das diferentes identidades que assume com a passagem dos anos. O deslocamento temporal permite ao narrador ver e analisar com certa isenção o que se passou. Pela metodologia do close reading, busco as marcas discursivas da experiência pessoal que suscitam questões concernentes ao gênero autobiográfico e de como a visão bem-humorada do autor revela suas memórias, introduzindo fatos dramáticos com a roupagem do humor. A narrativa humorada colabora para reforçar a veracidade do que é narrado pelo apelo à empatia e, nesse aspecto, fica evidenciada a importância do leitor para complementar tanto o processo da escrita autobiográfica quanto a decodificação do enunciado humorado. Mas o objetivo de McCourt não é fazer comédia, mas extrair comicidade e disponibilizar a faceta da ironia sobre acontecimentos tristes da juventude. Como autobiógrafo e ficcionista, McCourt enriquece a literatura pela construção de uma narrativa que deixa espaço à tensão social e à reflexão histórica.
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