As dimensões culturais da segurança alimentar: um estudo realizado entre famílias rurais gaúchas assentadas
Resumo
Muitos estudos têm sido desenvolvidos procurando mensurar a (in)segurança alimentar de
grupos sociais a partir de parâmetros exclusivamente nutricionais, negligenciado muitas vezes
o fato de que o ato humano de alimentar-se não envolve apenas motivações biológicas e
nutricionais, mas também questões de fundo cultural. Neste sentido, o presente trabalho
procura focar nas dimensões culturais associadas à segurança alimentar a partir do estudo de
famílias rurais assentadas dos municípios de Tupanciretã (RS) e Pedras Altas (RS). Os
assentamentos de reforma agrária são espaços privilegiados para este tipo de reflexão, pois
grande parte das famílias que os constituem compunham a condição de camponeses pobres
com acesso limitado e insuficiente à terra e aos alimentos que conseguiram a sua reocupação
produtiva aliada ainda à possibilidade da produção para o autoconsumo. O trabalho procura
identificar os alimentos componentes dos sistemas agroalimentares estudados, bem como
dimensionar o papel da produção para autoconsumo na garantia da segurança alimentar,
procurando ainda evidenciar em que termos se constroem as noções e categorias êmicas que
conformam a percepção de segurança alimentar para as famílias assentadas estudadas. A
metodologia implantada se valeu de ferramentas da abordagem etnográfica, tendo como
universo de observação os assentamentos rurais com suas redes sociais e dentro delas as
unidades de produção agrícolas e demais atores sociais. Paralelo à abordagem de observação
participante foram realizadas onze entrevistas semiestruturadas, das quais seis foram
realizadas com famílias assentadas do município de Tupanciretã e cinco com famílias
assentadas do município de Pedras Altas.