A (re)construção do heterônimo pessoano em O ano da morte de Ricardo Reis, de José Saramago
Resumo
O ano da morte de Ricardo Reis foi publicado por José Saramago pela primeira vez em 1984;
a história, contudo, se passa em 1936, um ano após a morte de Fernando Pessoa. Trata-se de
um período conturbado para Portugal, que enfrentava uma ditadura militar, de cunho nazi-
fascista, comandada por António de Oliveira Salazar. Como em seus títulos anteriores, nesse
romance, Saramago tematiza a história e os problemas sociais de Portugal, que, então, ganham
novos matizes sob a contemplação singular de Ricardo Reis. Permeada de versos do
heterônimo, a identidade do protagonista é construída com base nas informações dessa “vida”
pregressa, o que nos levou às seguintes questões: trata-se da mesma persona? Quais são os
processos que constituem a vida ficcional da personagem de Saramago? Que protocolos de
leitura o romance estabelece? Nosso estudo toma como princípios teóricos a noção de sobrevida
da personagem (REIS, 2013) e de transtextualidade/intertextualidade (GENETTE, 2005), e
dialoga com alguns críticos que também leram esse romance de José Saramago. Temos como
objetivos principais reconhecer, em meio ao discurso emaranhado da narrativa, os versos do
heterônimo pessoano, e compreender a função que exercem na composição do Reis
saramaguiano em diálogo com outros processos de figuração.