Interação da rizipiscicultura com agroquímicos e efeitos sobre a comunidade zooplanctônica
Abstract
Este trabalho tem por objetivos determinar a concentração letal mediana (CL50;96h) dos herbicidas azimsulfuron (A) e metsulfuron-metílico (M) e do inseticida carbofuran (C) para alevinos de carpa húngara (Cyprinus carpio), carpa capim (Ctenopharyngodon idella) e carpa cabeça grande (Aristichthys nobilis), bem como o efeito destes sobre as respostas colinérgicas dos peixes; quantificar a sobrevivência e o crescimento de alevinos de carpas húngara, capim e cabeça grande na lavoura de arroz, expostos aos agroquímicos, avaliar o efeito dos agroquímicos na comunidade zooplanctônica presente em água de irrigação do arroz e quantificar a produção de arroz em rizipiscicultura.
Os experimentos foram divididos em experimento 1 (determinação da CL50;96h para peixes), realizado em laboratório, e experimento 2 (exposição das carpas e zooplâncton na lavoura arrozeira), conduzido em área de várzea do Departamento de Fitotecnia da UFSM. No experimento 1, as carpas (10 alevinos/repetição) foram expostas aos agroquímicos por 96 h, em delineamento experimental inteiramente casualizado (três repetições), avaliando-se a sobrevivência e comportamento natatório dos peixes. Os peixes sobreviventes foram congelados e após foram retirados cérebro e músculo para realização de análise da enzima acetilcolinesterase (AChE). O experimento 2, realizado nas safras agrícolas 2003/04 e 2004/05, em delineamento experimental de blocos ao acaso, com quatro repetições (unidades experimentais que possuíam 48 m2 - 8m x 6m), iniciou com a semeadura do arroz no sistema pré-germinado, e posterior aplicação dos agroquímicos, com oito tratamentos: T1- A+peixe;
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T2- M+peixe; T3- C+peixe; T4- A+M+C+peixe; T5- A+M+C (sem peixe); T6- A+M+peixe; T7- controle 1 (somente arroz); T8- controle 2 (arroz+peixe). Oito dias após a aplicação dos agroquímicos foram colocados os peixes na área do refúgio, onde permaneceram durante toda a cultura do arroz até outubro seguinte. Nesse período, foi realizada a coleta de zooplâncton, 17 dias antes da aplicação dos agroquímicos, seguindo até o 75° dia após aplicação destes.
Com os resultados obtidos pode-se concluir que a CL50;96h do carbofuran foi: carpa húngara: 1,81 mg/L, carpa capim: 2,71 mg/L e carpa cabeça grande: 2,37 mg/L. Este estudo demonstrou que doses de carbofuran próximas à aplicada para a cultura do arroz (0,75 mg/L) provocam mortalidade e afetam o comportamento e a atividade da acetilcolinesterase nas espécies de peixes estudadas (Cyprinus carpio, Ctenopharyngodon idella e Aristichthys nobilis), indicando que a utilização deste inseticida não é recomendada para o sistema de rizipiscicultura.
Para o experimento 2, a aplicação dos agroquímicos (carbofuran, azimsulfuron e metsulfuron-metílico) na lavoura arrozeira não afetou a sobrevivência de carpas húngara, capim e cabeça grande, quando os alevinos são colocados oito dias após sua aplicação e as concentrações de carbofuran na água eram de 0,025 e 0,144 mg/L, nos anos experimentais 1 e 2, respectivamente, já com níveis que podem ser considerados pouco tóxicos para os peixes.
Já, a produtividade do arroz não foi influenciada pelos agroquímicos, quando utiliza-se o manejo adequado de lâmina contínua a partir da semeadura pré-germinada do arroz. A produtividade média do arroz irrigado no ano 1 foi de 4151 kg ha-1 e no ano 2 de 5643 kg ha-1.
A aplicação do agroquímico carbofuran provocou efeitos negativos na comunidade zooplanctônica da rizipiscicultura, para o grupo Cladocera. Copepoda (adultos e nauplios) e Rotifera foram pouco afetados pela aplicação do carbofuran. Copepoda adultos foram afetados pela entrada de peixes na área.