Somos solteirões: a construção da solteirice na agricultura familiar de Alegrete/RS
Abstract
O objetivo geral deste trabalho foi compreender a solteirice masculina na agricultura familiar do município de Alegrete, estado do Rio Grande do Sul. A modalidade de pesquisa utilizada foi o estudo de caso. Dei ênfase às trajetórias de vida de agricultores familiares solteirões. Realizei entrevistas semi-estruturadas com seis agricultores familiares solteirões, e com informantes-chave do município. Além das entrevistas, utilizei a pesquisa bibliográfica, a pesquisa documental e a técnica da observação. Busquei fundamentação teórica nos conceitos de célibat paysan, poder simbólico, dominação simbólica e dominação masculina de Pierre Bourdieu. A solteirice de homens aparece de forma expressiva no espaço rural de Alegrete, relacionada com processos de masculinização e de envelhecimento da população. Os solteirões do espaço rural do município se concentram basicamente em dois grupos sociais: agricultores familiares que trabalham com pecuária de corte e peões assalariados de fazendas. O fenômeno da solteirice expandiu-se ao longo do tempo, favorecido pela concentração de exércitos de soldados e de gaúchos primitivos na região, pela concentração da posse de terra, pelo processo de modernização e pelo desenvolvimento da ideologia do gauchismo. A família, como campo social, fornece a base de afetividade para os solteirões, mas também é um espaço de disputa por poder, que vem se transformando nas últimas décadas. Existem algumas características que são compartilhadas pelos solteirões, como o apego à família, a valorização positiva da vida rural, do trabalho e da cultura gaúcha, além do desejo de autonomia pessoal. Essas semelhanças proporcionam a emergência da identidade de homem rural solteirão. A solteirice é o resultado da decisão dos homens em manterem-se solteiros, que se fundamenta em diversos fatores, dentre os quais se destacam a dominação simbólica, em termos de classe, gênero e etnia; as estratégias familiares; a condição de masculinização e envelhecimento da população rural, e a valorização positiva da identidade de homem rural solteirão. Dessa forma, a solteirice masculina na agricultura familiar alegretense é compreendida como uma construção social.