Família rural e produção de tabaco: estratégias de reprodução social em Arroio do Tigre/RS
Abstract
O objetivo geral da tese foi compreender a reprodução social das famílias fumicultoras e as experiências vivenciadas diante dos diferentes momentos do desenvolvimento rural no município de Arroio do Tigre/RS. A modalidade de pesquisa foi o estudo de caso. Para sua realização, utilizou-se tanto a pesquisa bibliográfica e fontes secundárias quanto observações e entrevistas em pesquisa de campo. O marco teórico centrou-se nos conceitos da teoria de Pierre Bourdieu sobre as estratégias de reprodução social e habitus, em especial. Com base na bibliografia sobre a colonização, família rural, reprodução social na fumicultura, tratou-se de descrever e analisar as mudanças no espaço rural e as dificuldades das famílias na unidade de produção, atentando para aspectos subjetivos da relação familiar, do sistema de integração, do agricultor diante da ampliação dos espaços de sociabilidade e do mercado, e as alterações nas formas de produção e reprodução no rural. Foram realizadas trinta e uma entrevistas semiestruturadas com agricultores e jovens rurais do município e diversas conversas informais complementares. Dentre os resultados que merecem destaque, identificaram-se quatro momentos na constituição das famílias rurais e na expansão do tabaco no local: Fase I A produção artesanal fumageira: situada nos primórdios da colonização até a década de 1960, em que os colonos, descendentes de imigrantes alemães e italianos, consolidaram a região como grande produtora de tabaco e instauraram a cultura do tabaco como parte da tradição dos sistemas produtivos, usando-o como mote para a emancipação do município, reproduzindo a lógica do sistema econômico na vida colonial; Fase II A produção moderna fumageira: período de 1960 a 2000, em pleno fortalecimento do sistema de integração agroindustrial, em que a família rural precisou reordenar sua gestão rural, readaptar-se às novas tecnologias impostas pelo complexo agroindustrial, mudar os conhecimentos e suas formas de produzir e reproduzir-se no local; Fase III A produção fumageira em evidência: período pós-década de 2000, em que emergem diferentes conflitos no campo fumageiro; inicia-se um processo de mecanização das lavouras do tabaco que impacta na gestão do trabalho familiar, ampliam-se os espaços de participação da mulher na família e na produção, a modernização continua a assumir caráter essencial na atividade produtiva no meio rural; Fase IV O futuro da produção fumageira e dos jovens herdeiros da terra: entre o presente e o futuro, a família rural é tencionada pelo jovem rural e pelas intervenções do Estado; mecanismos internacionais interferem na gestão da família rural, como no caso do trabalho infantil; um período de intensificação das relações sociais no rural e da intensa mobilidade, o que causa tensões entre o futuro da propriedade e a herança da terra, além do fator tecnológico cada vez mais intenso na agricultura familiar, que provoca uma pressão por terras e por forte relação com o sistema econômico. O tabaco foi atividade produtiva partícipe da vida camponesa, de um saber apreendido, e a incorporação do habitus fumageiro passa, após processo de subida da serra, a um saber herdado. A saída dos jovens não implica uma crise da reprodução social da família rural e, respectivamente, da unidade de produção. A história do tabaco e também das famílias rurais na região de Arroio do Tigre está marcada pela tradição herdada e reproduzida nesse local.