Território feito à mão: artesanato e identidade territorial no Rio Grande do Sul
Abstract
Os estudos sobre identidade alcançaram grande relevância nas ciências sociais, destacando-se a noção de identidade territorial, presente na atualidade como mobilizadora da construção de novas territorialidades e da promoção de estratégias de desenvolvimento territorial. No âmbito destas estratégias, os bens culturais, como o artesanato, destacam-se entre as possíveis singularidades vinculadas ao território que podem ser mobilizadas em nome do desenvolvimento. Tendo por referência as experiências dos territórios Costa Doce e Quarta Colônia, no Rio Grande do Sul, objetiva-se, em termos gerais, compreender como o artesanato vem se transformando em interação com os processos globalizantes contemporâneos que oportunizam o seu acionamento enquanto expressão de identidade territorial. Especificamente, objetiva-se (a) evidenciar a crescente aproximação entre as noções teóricas de desenvolvimento, cultura e território, e seu vínculo com a noção de identidade territorial; (b) analisar se e como a produção de artesanato tem se modificado nos territórios onde estratégias de reconversão, e consequentes processos de hibridação, compõem processos de construção e projeção identitária; (c) refletir sobre as potencialidades e limites que o artesanato possui de ser acionado enquanto sinal diacrítico em nome do desenvolvimento dos territórios onde estão em curso narrativas de construção e projeção identitária. O percurso metodológico compreendeu coleta e sistematização de dados secundários seguido de observação e entrevistas semiestruturadas com interlocutores qualificados. Na Costa Doce, um território turístico reconhecido, o Projeto Artesanato do Mar de Dentro, coordenado pelo SEBRAE, vem vinculando aspectos territoriais ao artesanato. A partir das entrevistas realizadas, percebeu-se que as ações do Projeto vêm contribuindo para fortalecer o sentimento de pertencimento das artesãs, que afirmaram ter orgulho de poder contribuir para a consolidação e projeção da identidade do território do qual fazem parte. No segundo estudo de caso, realizado na Quarta Colônia, o CONDESUS (Consórcio de Desenvolvimento Sustentável da Quarta Colônia) têm promovido, desde o início da década de 1990, ações com objetivo de afirmar uma identidade territorial como suporte ao seu desenvolvimento. As observações e entrevistas realizadas na Quarta Colônia permitiram afirmar que, apesar das tentativas de promoção dos aspectos identitários do território promovidas pelo CONDESUS, as referências simbólicas nos artefatos confeccionados, quando existentes, são predominantemente específicas da localidade do artesão, com pouca alusão ao território como um todo. Por fim, percebe-se que no mundo contemporâneo globalizado o artesanato possui maiores chances de subsistir quando se torna expressão identitária, contribuindo para a construção e projeção dos territórios, desde que mobilizado em estratégias de reconversão com este intuito.