Estudo da distribuição de selênio em animais experimentais em função da espécie de selênio ingerida e via de administração
Abstract
O selênio (Se) é um micronutriente essencial que atua em muitos processos fisiológicos importantes, participa da atividade de muitas enzimas. Sua significância clínica está relacionada à atuação de seus compostos como coadjuvante na prevenção e combate de diversas doenças entre
elas o câncer, doenças cardíacas e doenças imunológicas. A atuação nas diversas funções vitais, no entanto, está relacionada à sua forma química. Vários estudos têm ressaltado a importância da suplementação do selênio na dieta, tanto na forma oral como parenteral, porém há uma incerteza sobre a melhor espécie de Se a ser utilizada.
Neste trabalho, primeiramente, adequou-se a metodologia para quantificação do selênio total em amostras biológicas entre elas levedura e tecidos como músculo e pele. Fez-se um
comparativo entre as técnicas de espectrometria de absorção atômica com forno de grafite e geração de hidretos para esta determinação. Os resultados demonstraram que a técnica de
Espectrometria de Absorção Atômica por Geração de Hidretos (HG AAS) se mostrou mais adequada para quantificação do Se após o procedimento de digestão da amostra, uma vez que as
interferências causadas pela técnica de Espectrometria de Absorção Atômica por Forno de Grafite (GF AAS) não puderam ser minimizadas. Para o estudo da absorção e distribuição do selênio utilizaram-se dois modelos animais, aves domésticas e coelhos. O Se foi determinado na gordura extraída do músculo de frango e no resíduo deste após a digestão. A gordura foi extraída com solventes orgânicos (metanol:diclorometano 1:3) e o Se determinado por GF AAS. O resíduo foi digerido com a mistura de ácidos nítrico e perclórico, e a redução do Se (VI) a Se (IV) realizada com NaBr/ácido sulfâmico, antes da medida por HG AAS. Os limites de detecção (LOD) encontrados foram 1 μg/L e 6 μg/L para as técnicas de GF AAS e HG AAS. Os resultados mostraram que ocorre a distribuição do selênio entre a gordura extraída (20%) e resíduo (80%). A análise de especiação dos selenoaminoácidos, selenometionina (SeM) e selenocistina
(SeC), foi realizada utilizando os reagentes de derivação para aminoácidos 9-metilfluorenil clorofórmio (FMOC) e o-ftaldeído (OPA) com detecção ultravioleta (pré-coluna) e fluorescente
(pós-coluna), respectivamente. O método cromatográfico foi a Cromatografia Liquida de Alta Eficiência (HPLC-FMOC) o qual utilizou separação em fase reversa, obtendo-se valores de LOD
de 0,50 mg/L e 0,20 mg/L respectivamente para SeM e SeC. As curvas analíticas apresentaram linearidade entre 1,6 e 8,0 mg/L para SeM e 0,80 a 8,0 mg/L para SeC. O método HPLC-OPA baseou-se na cromatografia de troca aniônica, com coluna AminoPac PA1 para aminoácidos, obtendo-se valores de LOD de 0,005 e 0,009 mg/L para SeM e SeC, respectivamente. A caracterização da levedura (Experimento 1) que é utilizada como suplementação alimentar de aves foi realizada. O Se total, a fração solúvel em água e o Se presente nas proteínas foram determinadas através da digestão ácida, extração com água e separação das proteínas por adsorção em coluna de polietileno em pó, respectivamente. As medidas da concentração de Se
foram realizadas por HG AAS (amostra digerida) e GF AAS (extratos aquosos e fração ligada à proteína). Adicionalmente, determinaram-se os selenoaminoácidos no extrato aquoso e na fração ligada à proteína, após a hidrólise, por HPLC-OPA. Verificou-se que no extrato aquoso 6% são Se inorgânico e 94% é orgânico. Considerando a parte orgânica 98% é SeM, 58% está ligado a proteína e 37% está na forma livre.
O comparativo entre suplementação oral com Se inorgânico (selenito de sódio) e orgânico (levedura enriquecida com Se) em aves foi realizado (Experimento 2). O tratamento com
levedura promoveu um aumento da concentração de Se total no músculo e na gordura. O valor médio da concentração de Se nas aves tratadas com selenito de sódio foi de 0,13 μg/g e de 0,32 μg/g após a suplementação com Se orgânico (levedura). Também foi investigado a avaliação da suplementação de Se inorgânico (selenito de sódio) e Se orgânico (SeM) através da via parenteral em coelhos. A administração realizou-se através de dois experimentos diferentes (4 e 5). O experimento 4 foi o estudo cinético,
administrando 0,2 mg/kg de Se, e avaliando-se o Se total e as espécies SeM e SeC no soro após 15, 30, 60 e 120 minutos. O Se total teve uma concentração máxima de Se em 15 minutos após a administração de Se inorgânico. O grupo que recebeu SeM possui valores elevados neste mesmo
tempo, porém não pronunciados, podendo evidenciar a sua mais rápida distribuição. Os resultados também mostram que não houve interconversão do Se (IV) em selenoaminoácidos,
sendo as variações de concentração similares para os grupos após a administração do Se (IV). A administração de SeM mostrou redução gradual de concentração após 15 minutos, mas nenhuma alteração na concentração de SeC foi observada. O experimento 5 foi o estudo sub-crônico. A administração de Se orgânico aumentou significativamente o Se total no soro sanguíneo e na urina, bem como nos tecidos cérebro, coração, músculo e baço. Por outro lado, o fígado foi o tecido que mostrou maior acúmulo de Se com a administração de Se (IV). O rim não mostrou diferença significativa entre as formas de Se. Os parâmetros de avaliação toxicológica (medida dos níveis de ALA-D, TBARS, ácido ascórbico) não mostraram alterações significativas entre os tratamentos com as diferentes formas de Se.
Os resultados obtidos com o tratamento oral das aves se mostraram similares ao tratamento parenteral, onde a forma orgânica produz uma disponibilidade maior de selênio em
relação ao encontrado no músculo.