Poliaminas modulam a memória nas tarefas de medo condicionado e esquiva inibitória em ratos
Resumo
As poliaminas endógenas, putrescina, espermina e espermidina são aminas alifáticas que interagem com diversos alvos celulares como ácidos nucléicos e proteínas. Elas atuam como moduladores endógenos de diversos canais iônicos, incluindo o subtipo de receptor glutamatérgico N-metil-D-aspartato (NMDA) Os processos mediados pelo receptor NMDA incluem plasticidade sináptica e formação de circuitos neurais. Acredita-se que a ativação dos receptores NMDA na amígdala é crítica para aquisição da memória do medo em ratos. No entanto, pouco se sabe sobre o papel de moduladores endógenos do receptor NMDA, como as poliaminas, no aprendizado do medo condicionado Pavloviano. Assim, num primeiro momento nós investigamos o efeito da administração intra-amígdala de arcaína, um antagonista do sítio das poliaminas no receptor NMDA, e da espermidina, sobre a tarefa do medo condicionado clássico. Para isso, os ratos foram canulados bilateralmente nas amígdalas e, após a recuperação cirúrgica, os animais foram treinados e testados na tarefa do medo condicionado contextual e auditivo. Microinjeções bilaterais de arcaína (0,0002-0,2 nmol), espermidina (0,002-20 nmol) ou a associação de espermidina e arcaína, foram realizadas imediatamente antes do treino ou imediatamente após o treino do medo condicionado. A administração de arcaína diminuiu, enquanto espermidina aumentou o medo condicionado ao contexto e auditivo. A arcaína numa dose que não apresentou efeito per se reverteu o efeito facilitatório causado pela espermidina. Nenhuma das drogas estudas alteraram a atividade motora, a ansiedade e a sensibilidade dos animais ao choque. Estes resultados indicam que as poliaminas endógenas e exógenas modulam a aquisição e/ou o início da consolidação da tarefa do medo condicionado na amígdala em ratos. Tendo em vista a falta de estudos na literatura avaliando o período de tempo em que o processamento da memória no hipocampo é sensível as poliaminas, avaliou-se o efeito da espermidina administrada no hipocampo sobre a memória em ratos utilizando-se o teste de esquiva inibitória. Os animais receberam microinjeções bilaterais de espermidina (0.02-2 nmol), 30 minutos antes do treino, imediatamente após o treino, 6 horas após o treino ou 10 minutos antes do teste na região CA1 do hipocampo dorsal. Espermidina na dose de 0,2 nmol melhorou a performance dos ratos na tarefa de esquiva inibitória quando administrada 30 minutos antes ou imediatamente após o treino. Estes resultados sugerem que o efeito modulatório da espermidina na aquisição e/ou início da consolidação da memória na tarefa de esquiva inibitória no hipocampo ocorre dentro de uma janela temporal limitada.