Parâmetros toxicológicos em carpas (Cyprinus carpio) expostos a uma formulação comercial de clomazone (gamit®)
Abstract
As formulações comerciais do herbicida clomazone têm sido amplamente utilizadas
na agricultura e na piscicultura para controle de plantas daninhas. Os peixes
podem ser afetados quando as águas de drenagem atingem os cursos d água,
acarretando um desequilíbrio no ecossistema aquático. Para avaliar uma possível
contaminação foi determinada a CL50 (96h) utilizando-se uma formulação comercial
contendo clomazone (Gamit®) verficando-se parâmetros metabólicos, enzimáticos,
genotóxicos e de estresse oxidativo em juvenis de carpas (Cyprinus carpio). Para o
teste de toxicidade aguda, a fim de determinar a CL50, os peixes foram expostos
às concentrações 10, 20, 30, 40 e 50 mg/L de clomazone em água durante 96
horas e o comportamento dos peixes foi analisado nesse período. Após a exposição,
foi verificada a atividade da enzima acetilcolinesterase (AChE) no cérebro e músculo
dos peixes mortos e das carpas que sobreviveram. No segundo experimento, os
peixes foram expostos ao herbicida durante sete dias, tanto em condição de campo
(lavoura de arroz irrigado) como de laboratório. A concentração utilizada na lavoura
de arroz e no laboratório foi de 0,5 mg/L. Decorridos os períodos experimentais de
7 dias em condições de laboratório, e 7, 30 e 90 dias em condições de lavoura de
arroz, foram retirados o cérebro, o fígado e o músculo dos peixes para
realização das análises toxicológicas. Os parâmetros enzimáticos analisados foram
a atividade da AChE, catalase (CAT) e glutationa S-transferase (GST). Também
foram analisados alguns marcadores de estresse oxidativo, como a carbonilação de
proteínas e níveis das substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico (TBARS) no tecido
hepático. Por fim, foram avaliados alguns parâmetros metabólicos como: glicose,
glicogênio, lactato, proteína, amônia e os aminoácidos em fígado e em músculo de
carpas. No plasma, foram feitas as dosagens de glicose, de lactato e de proteína.
Em um terceiro experimento, as carpas foram expostas a aproximadamente 15% do
valor obtido para a CL50 (5,0mg/L) por 7 dias. Posteriormente, foi verificada a
formação das espécies reativas de oxigênio (EROs) e foram realizados os testes do
micronúcleo e cometa (expresso por índice de dano do DNA). No primeiro
experimento, foi observado que os peixes expostos a 20, 30, 40 e 50 mg/L,
mostraram mudanças comportamentais e a CL50 (96h) foi 30,35 mg/L. Além disso,
foi verificado que a atividade da enzima AChE não apresentou alterações
significativas no cérebro dos peixes que morreram nas concentrações testadas (30,
40 e 50mg/L), e no músculo dos peixes mortos houve uma elevação na atividade
desta enzima, quando eles foram expostos a 50 mg/L de clomazone. Já a atividade
AChE diminuiu significativamente no cérebro dos peixes que sobreviveram após 96h
de exposição a 10, 20 e 30mg/L, no entanto, aumentou no músculo dos peixes
sobreviventes expostos a todas as concentrações testadas. No segundo
experimento, os resultados mostraram que os peixes expostos a 7 dias não
apresentaram alterações na AChE em condições de campo. No entanto, uma
diminuição da atividade desta enzima no músculo foi observada em condições de
laboratório. Durante o mesmo período de exposição, os parâmetros de estresse
oxidativo mudaram tanto em condições de campo quanto em laboratório. Entretanto,
os parâmetros metabólicos foram alterados apenas em condições de campo. Após
30 e 90 dias, a atividade da AChE não se alterou em condições de campo.
Distúrbios nos parâmetros de estresse oxidativo e metabolismo foram evidentes nos
tecidos até 90 dias após a aplicação. Os resultados mostraram que a atividade da
AChE alterou apenas em condições de laboratório, e que marcadores de estresse
oxidativo associados aos parâmetros metabólicos podem ser bons indicadores de
contaminação para o clomazone em C. carpio em condições de campo. No terceiro
experimento, os resultados mostraram um aumento da formação das EROs e
significativo aumento dos MN e de danos no DNA dos eritrócitos após a exposição a
5,0 mg/L do herbicida clomazone. De acordo com os resultados obtidos, conclui-se
que o herbicida estudado pode ser perigoso para as carpas quando expostas,
devido ao aumento das EROs que por sua vez causam estresse oxidativo,
evidenciado por alterações em marcadores enzimáticos, metabólicos, genotóxicos e
de estresse oxidativo. Contudo, mais estudos serão necessários para verificar a
segurança desse herbicida para os cultivos associados utilizando-se arroz e peixes.