Compostos 1,2 e 1,4-dicarboxílicos atuam sobre o sistema glutamatérgico e o comportamento de ratos e camundongos
Resumo
Os receptores glutamatérgicos são alvos da ação de muitas neurotoxinas análogas ao L-glutamato. Neste estudo foram investigadas as ações de dois compostos dicarboxílicos, um de cadeia cíclica e estrutura rígida e o outro de cadeia acíclica e estrutura flexível, sobre a neurotransmissão glutamatérgica, dano oxidativo e comportamento em roedores. No primeiro trabalho foi investigado se o D,L-cis-2,3-dicarboxilato de pirrolidina (D,L-cis-2,3-PDC) altera a ligação de [3H]-L-glutamato em membranas plasmáticas de córtex de ratos adultos e se os receptores N-metil-D-aspartato (NMDA) estão envolvidos nas convulsões induzidas por este composto. O D,L-cis-2,3-PDC reduziu a ligação de [3H]-L-glutamato Na+-independente em 50% nas preparações de membranas rompidas e não apresentou efeito sobre a ligação de [3H]-L-glutamato Na+-dependente. A administração intracerebroventricular (ICV) de D,L-cis-2,3-PDC (7,5; 25 nmol/ 5 μl) induziu convulsões generalizadas do tipo tônico-clônica nos camundongos, de uma maneira dose-dependente. A co-administração de MK-801 (7 nmol/ 2,5 μl; ICV), um antagonista não-competitivo dos receptores NMDA, com D,L-cis-2,3-PDC (16,5 nmol/ 2,5 μl; ICV), protegeu totalmente os animais das convulsões induzidas por D,L-cis-2,3-PDC, enquanto que a co-administração de DNQX (10 nmol/ 2,5 μl; ICV), um antagonista dos receptores AMPA e KA, aumentou a latência das convulsões, mas não alterou a percentagem de animais que tiveram convulsões. Estes resultados sugerem que os efeitos induzidos por D,L-cis-2,3-PDC são mediados principalmente pela ativação dos receptores NMDA. No segundo estudo, foi investigado se o sucinato, substrato que se acumula nas deficiências da enzima sucinato desidrogenase (SDH) e nas intoxicações por inibidores da SDH, causa lipoperoxidação e carbonilação protéica, e se os receptores NMDA estão envolvidos no dano oxidativo induzido por sucinato. Camundongos machos adultos receberam uma injeção ICV de sucinato (0,7; 1,0; 1,7 μmol/ 5 μl) ou 0,9 % de NaCl (5 μl) e seu comportamento foi analisado em um campo aberto por 10 minutos. Sucinato (0,7; 1,0 μmol/ 5 μl) diminuiu a atividade locomotora e aumentou as substâncias que reagem ao ácido tiobarbitúrico (TBARS) e carbonilação protéica no cérebro. Por outro lado, 1,7 μmol de sucinato não alterou a atividade locomotora ou os parâmetros de dano oxidativo. O envolvimento dos receptores NMDA no aumento induzido por sucinato do conteúdo de carbonilação protéica e da inibição do comportamento exploratório foi avaliado pela co-administração de MK-801 (7nmol/ 2,5 μl, ICV) com sucinato (1 μmol/ 2,5 μl, ICV). A co-administração de MK801 protegeu contra o aumento induzido por sucinato da carbonilação protéica e na diminuição da atividade locomotora. Esses resultados sugerem o envolvimento dos receptores NMDA nesses efeitos do sucinato, os quais são de grande relevância nas condições em que acumula sucinato, tais como as intoxicações com inibidores da SDH e deficiências dessa enzima causadas por erros inatos do metabolismo.