Efeito da N-acetilcisteína no déficit cognitivo induzido pela estreptozotocina em camundongo
Resumo
O déficit cognitivo é uma desordem mental que está associado a doenças neurodegenerativas, como é a doença de Alzheimer (DA) a qual é a forma mais comum de demência. Atualmente não existem evidências consistentes quem permitam apoiar qualquer medida para a prevenção desta doença (DAVIGLUS e col., 2010). Já para o seu tratamento, existem métodos os quais proporcionam alívio relativo dos sintomas, contudo, de natureza paliativa1. Assim, o presente trabalho visou avaliar a n-acetilcisteína (NAC), uma molécula com propriedades neuroprotetora, no tratamento e prevenção da demência consequente da DA, utilizando-se de um modelo experimental de demência induzida pela estreptozotocina (STZ) em camundongos. Inicialmente avaliou-se o efeito da NAC sobre a atividade da acetilcolinesterase (AChE) cerebral de camundongos in vitro. A concentração de ditiobisnitrobenzoato (DTNB) e pH ideais foi de 0,3 mM e 7,4, respectivamente. Obteve-se linearidade na atividade enzimática com concentrações de 0,025 a 0,450 mM de acetiltiocolina (ATCh). Foram adicionados 60 sec de intervalo prévios à adição da ATCh para evitar a interferência da interação DTNB-NAC. A NAC interferiu na Vmax da AChE a partir da concentração de 75 μM sem modificar a Km, caracterizando uma inibição de forma não-competitiva. Em uma segunda instância, avaliou-se o efeito da NAC sobre o déficit cognitivo a curto prazo em camundongos. Para isso, os animais foram divididos em quatro grupos e foram tratados com NAC (50 mg/kg/dia v.o.) ou salina por nove dias consecutivos e com STZ (2.5 mg/kg i.c.v.) ou FCEa no primeiro e terceiro dias. Os resultados mostram que o tratamento com NAC: 1) diminuiu a latência para achar a plataforma no labirinto aquático (MWM) e aumentou a latência para descer da plataforma na esquiva passiva (SDPA) dos animais que apresentaram-se alteradas nos animais que receberam STZ; 2) restaurou a atividade enzimática da AChE e butirilcolinesterase (BChE) e os níveis de acetilcolina (ACh) corticais e hipocampais potencializadas pela STZ; e 3) protegeu do desequilíbrio do metabolismo energético cerebral induzido pela STZ. Finalmente, foi avaliado o efeito da NAC sobre o déficit cognitivo a longo prazo em camundongos. Para tal, os animais foram tratados com NAC (5 mg/kg/dia v.o.) ou salina por 30 dias consecutivos e com STZ (2.5 mg/kg i.c.v.) ou FCEa no primeiro e terceiro dias. Um tratamento com fisostigmina (PHY; 0,25 mg/kg/dia v.o.) foi realizado em paralelo como medida de controle positivo. Totalizando assim seis grupos. Ambos os tratamentos com NAC e PHY: 1) diminuíram a latência para achar a plataforma no labirinto aquático (MWM) e aumentaram o tempo de exploração no novo objeto (NOR) que apresentaram-se alteradas nos animais que receberam STZ; 2) normalizaram a atividade enzimática da AChE cortical e hipocampal potencializada pela STZ; 3) resgataram a plasticidade sináptica, recuperando os níveis de sinaptofisina (SYN), proteína associada aos microtúbulos do tipo 2 (MAP2) e proteína ácida fibrilar glial (GFAP) diminuídas pela STZ. Desta forma, o tratamento com NAC protegeu do déficit cognitivo induzido pela STZ em camundongos, normalizando a atividade colinérgica e reestabelecendo a plasticidade sináptica.