Ação do público como instauradora da obra: propostas participativas na arte contemporânea
Resumo
Este trabalho trata da abertura da obra à participação do público na arte
contemporânea. A participação constitui a relação com trabalhos que necessitam da
interferência objetiva do público e fazem de seu envolvimento e de sua ação parte do processo
de construção da obra. A escolha por esse tema respondeu à curiosidade e interesse em
compreender propostas que aconteciam dentro e fora dos espaços expositivos e que
provocavam o público a agir, a interagir entre si, a comprometer-se com o desenvolvimento
da obra. Em um primeiro momento, parte-se do contexto contemplativo e do pensamento de
teóricos e artistas que passam a considerar que o espectador é também um participante, ao dar
sentido à obra, conferindo-lhe completude. Explora-se então uma série de propostas que nos
anos 60 tornam literal a idéia de um público participante, fazendo com que este se envolva
objetivamente na instauração da obra. Essas propostas motivam a experimentação do corpo e
a ação corporal do público junto às obras, buscando promover a liberdade em um momento
marcado por contextos políticos de repressão. Em um segundo momento, busca-se
compreender a expansão e a persistência das propostas participativas na contemporaneidade,
como estratégia do artista que abdica do controle total sobre a obra e sobre seus significados
e como forma de relação entre obra e público que hoje é entendida no sentido de uma
produção compartilhada. Discutem-se, então, as motivações e renúncias dos artistas
contemporâneos que continuam, hoje, envolvendo o público diretamente no processo de
construção de seus trabalhos. Por fim, discute-se a imprevisibilidade e o risco implicados pela
conduta participativa. Esses fatores perpassam tanto a atitude do artista, ao abrir sua produção
à interferência do outro, quanto a atitude do público participante, ao engajar-se em uma
proposta que ainda está em aberto. Procura-se demonstrar, a partir disso, como se
transformam as relações e até mesmo a distribuição de papéis entre artista, obra e público nas
propostas participativas e de que forma elas podem representar uma abertura para a
experiência. Guy Brett, Claire Bishop, Jacques Rancière e Laurent Goumarre são os
referenciais principais que servem como base para essa investigação. O trabalho aponta para a
compreensão de que a participação imprevisível do público é capaz de enriquecer as obras e a
própria visão do artista a respeito de uma proposta, ao mesmo tempo em que pode tornar-se
uma experiência significativa para o público participante.