Dinâmica populacional de Aegla platensis (Crustacea, Anomura) em um tributário do Rio da Várzea em Frederico Westphalen - RS
Abstract
Esta dissertação apresenta uma contribuição para a preservação e manejo de Aegla
platensis, uma das espécies de eglídeos de maior abrangência em distribuição na América do
Sul, único local onde são encontrados. Para isso, foram realizadas coletas mensais durante
doze meses, de julho de 2007 a junho de 2008, no Lajeado Bonito (27º 25 27 S 53º
24 39 W), um tributário de primeira ordem do Rio da Várzea, em Frederico Westphalen/RS.
Os espécimes foram coletados com auxílio de armadilhas com iscas de fígado bovino e puçá
com malha de 1 mm de abertura. Os objetivos da presente contribuição foram: realizar uma
estimativa da densidade populacional de A. platensis; determinar o tamanho de machos e
fêmeas na primeira maturação; determinar a razão sexual, o período reprodutivo e o de
recrutamento de juvenis; estudar a distribuição espacial e temporal da espécie.
A dissertação está dividida em três capítulos, cada um abrangendo um assunto
pertinente à biologia de A. platensis, a fim de proporcionar uma leitura mais dinâmica e
objetiva, além de facilitar o encaminhamento dos artigos para publicação em revistas
científicas da área.
O primeiro capítulo trata da maturidade sexual morfológica em A. platensis, a qual foi
estimada através das mudanças nas proporções das dimensões corporais dos animais. Para
isso, foram utilizados 437 machos com comprimento de cefalotórax (CC) variando de 6,00 a
31,75 mm (média 16,11± 7,4 mm) e 368 fêmeas com CC de 6,08 a 27,92 mm (média 16,07±
6 mm). Os indivíduos coletados foram sexados e mensurados nas seguintes dimensões
corporais: comprimento de cefalotórax (CC), largura do abdome (LA), comprimento do
própodo direito (CPD), comprimento do própodo esquerdo (CPE) e altura do maior própodo
(ALT). Após o registro dessas medidas, os animais foram devolvidos ao mesmo local de
captura. A análise de maturidade sexual morfológica foi realizada com auxílio do Software
Mature 2, na qual foram utilizadas as medidas de CC, considerada como variável
independente e relacionada com as demais, tanto para machos quanto para fêmeas. Com base
na relação entre o comprimento da carapaça e as medidas do própodo calculou-se a
maturidade dos machos, estimada em 19,9 mm de CC e, com base na largura do abdome
estabeleceu-se a maturidade das fêmeas em 18,2 mm de CC.
No segundo capítulo foram caracterizados aspectos da biologia reprodutiva de A.
platensis. Avaliou-se a proporção sexual, o período reprodutivo (pela frequência de fêmeas
ovígeras durante o período amostral), o período de recrutamento e o tamanho médio de
machos e fêmeas. Foram amostrados 503 machos (180 adultos e 323 juvenis), 378 fêmeas
(169 adultas, 187 juvenis e 22 ovígeras) e 76 juvenis com sexo indeterminado. O CC variou
de 6 a 31,75 mm nos machos, de 6,08 a 27,92 mm nas fêmeas e de 1,39 a 5,98 mm nos
juvenis não sexados. Os tamanhos médios foram de 16,27 (± 7,35), 16,11 (± 5,95), 4,73 (±
0,96) mm para machos, fêmeas e juvenis não sexados, respectivamente. A proporção sexual
média foi de 1,33 (± 0,38) machos/fêmea. Foram amostradas 22 fêmeas ovígeras, 5,82% das
fêmeas capturadas, sendo 10 no inverno, 4 na primavera, 7 no verão e 1 no outono. O
tamanho destas fêmeas variou de 16,7 a 24,87 mm. A presença de juvenis foi verificada em
todas as estações do ano, com maior frequência no verão.
No terceiro capítulo, avaliou-se a distribuição espacial e temporal de A.platensis.
Foram registrados dados morfométricos e físico-químicos , como pH, oxigênio dissolvido,
temperatura da água, condutividade elétrica, pluviosidade e vazão de água. O sedimento de
cada ponto foi caracterizado de acordo com o tamanho das partículas que o compunham.
Foram coletados 957 indivíduos com puçá e armadilhas de garrafa pet dispostas em um trecho
de 150 metros ao longo do arroio. Do total de indivíduos coletados, 200 foram no inverno
(20,90%), 255 na primavera (26,65%), 219 no verão (22,88%) e 283 no outono (29,57%). A
densidade populacional, calculada pelo método de Petersen, foi estimada em 3,83 indivíduos/m2 no inverno, 1,8 na primavera, 3,29 no verão e 2,33 no outono. Os valores de
temperatura da água, pH, condutividade e oxigênio dissolvido foram estatisticamente
semelhantes entre as estações do ano. Não houve relação entre esses parâmetros físicoquímicos
da água e a abundância de eglídeos coletados. Houve variação na média de
indivíduos coletados ao longo das estações (p< 0,05). A quantidade de fêmeas adultas
apresentou correlação negativa com a quantidade de rochas entre 6 e 12 cm de diâmetro
(p<0,01) e o número de juvenis aumentou com a quantidade de folhiço no substrato (p<0,05).