Biologia populacional de uma nova espécie de Aeglidae (Crustacea, Anomura) na sub-bacia do rio Jaguari - RS
Date
2011-02-22Metadata
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O presente trabalho visa avaliar alguns aspectos da biologia de uma nova espécie de eglídeo da bacia do Rio Jaguari (em processo de descrição), como a estrutura populacional, a maturidade sexual morfológica e o crescimento somático em ambiente natural. As amostragens foram realizadas de novembro/2007 à outubro/2008, em um trecho do Córrego Perau, no município de Jaguari-RS. Foram realizadas coletas mensais e os indivíduos foram capturados de duas maneiras, com o auxílio de 25 armadilhas tipo covo, sendo que estas foram dispostas no final da tarde de um dia e retiradas pela manhã do dia seguinte. O segundo método de amostragem foi com auxílio de um surber disposto em sentido contrário à correnteza de modo que, com o revolvimento das pedras, vegetação e todo tipo de substrato, os organismos fossem arrastados para dentro do equipamento de captura. Na coleta com surber adotou-se um esforço amostral de 30 minutos. Os organismos coletados foram sexados com base na presença de pleópodos nas fêmeas e ausência destes nos machos e/ou posição das aberturas genitais. Os indivíduos tiveram as seguintes dimensões corporais mensuradas com um paquímetro digital com precisão de 0,01mm: comprimento do cefalotórax (CC), largura do cefalotórax (LC), largura do segundo somito abdominal (LA), comprimento do própodo quelar esquerdo (CPE), comprimento do própodo quelar direito (CPD) e altura do maior própodo quelar (ALT). Após registradas as medidas e a sexagem, os organismos foram devolvidos no mesmo local de onde coletados. Durante o tempo de trabalho foram amostrados 1774 indivíduos (1259 machos, 512 fêmeas e 03 indivíduos não-sexados). Machos e fêmeas foram agrupados em classes de CC, onde foi observada uma distribuição bimodal. Os machos apresentam tamanhos significativamente maiores que fêmeas, de acordo com o teste de Mann-Whitney (p<0,05). A proporção sexual foi significativamente diferente de 1:1 na maioria dos meses de amostragem (p<0,05) quando considerados os dados gerais (armadilha + surber), porém seguiu a esperada na maioria dos meses quando considerados indivíduos amostrados somente com surber (p>0,05). A maior incidência de fêmeas ovígeras ocorreu no outono (65,11%), seguido do inverno (5,81%) e primavera (1,75%). Embora os juvenis tenham ocorrido em todas as estações do ano, as maiores freqüências destes, em relação aos adultos, foram observadas no outono (20,43%) e no inverno (17,29%). A menor fêmea ovígera amostrada em campo mediu 10,45 mm. O tamanho dos indivíduos no início da maturidade sexual morfológica foi estimado,
utilizando o programa REGRANS, em 12,78 e 10,78mm de comprimento cefalotoráxico para machos e fêmeas respectivamente. Machos de Aegla sp. n. exibem heteroquelia, com preponderância de lateralidade da quela esquerda, enquanto fêmeas apresentam isoquelia. Após a muda puberal, uma mudança adicional no nível de alometria em relação as dimensões das quelas foi detectada em machos adultos. Como resultado, dois grupos de morfotipos em machos adultos, aqui designados como morfotipo I e II foram reconhecidos de acordo com o estado de desenvolvimento dos quelípodos. As curvas de crescimento do cefalotórax, estimadas para machos e fêmeas, são descritas pelas seguintes equações Ct = 26,57[1 e -0,0064(t+18,14) e Ct = 21,71[1 e-0,008(t+30,25) , respectivamente. Os machos atingiram tamanhos maiores que as fêmeas e apresentaram taxas de crescimento maiores que essas. A longevidade estimada para os machos foi de 670 dias e enquanto que para as fêmeas foi de 736 dias. O presente estudo busca contribuir com o conhecimento da biologia de uma nova espécie de eglídeo, espera-se que este possa servir de subsídios para novas investigações sobre estes crustáceos e também possa direcionar esforços para a preservação das espécies da família Aeglidae e, por consequência, de todas as áreas de nascentes onde vivem estes animais.