Modelagem ecológica como ferramenta para a identificação de áreas prioritárias à conservação de Philodryas agassizii (Squamata, Dipsadidae) no Rio Grande do Sul
Resumo
A biodiversidade está em declínio global e as principais ameaças estão associadas às atividades antropogênicas referentes às mudanças no uso do solo. Espécies especialistas em habitats são as mais vulneráveis. A distribuição e requerimentos ambientais das espécies são fundamentais a conservação, no entanto, muitas dessas informações são ainda desconhecidas. Os modelos de distribuição preditiva são úteis para preencher lacunas no que se refere à distribuição geográfica de espécies e requerimentos ambientais. Philodryas agassizii é uma espécie de serpente especialista em habitat, altamente sensível a alterações ambientais e possivelmente com amostragem deficitária. Essa espécie ocorre em áreas de campo do Cerrado brasileiro no bioma Pampa do Brasil, Uruguai e Argentina. As áreas de campo estão entre as fitofisionomias mais ameaçadas no mundo e carecem de medidas conservacionistas. Nesse estudo buscamos estimar a distribuição geográfica potencial de P. agassizii, identificar as áreas mais propícias à sua ocorrência e o estado de conservação das mesmas, bem como propormos medidas de conservação da espécie no estado do Rio Grande do Sul. Para isso, inventariamos os pontos de ocorrência conhecidos para a espécie e aplicamos o método de modelagem de distribuição potencial, utilizando matrizes bioclimáticas e de altitude e o algoritmo de entropia máxima. A partir do modelo resultante, consideramos áreas com adequabilidade ambiental superior a 70% como prioritárias para conservação da espécie. Sobrepomos essas áreas com os mapas de uso de solo, de unidades de conservação e de Áreas Prioritárias para Conservação da Biodiversidade Brasileira (PROBIO). A distribuição potencial geográfica de P. agassizii acompanhou o chamado corredor de savanas , com áreas de maior adequabilidade no noroeste do Uruguai, centro-oeste do Rio Grande do Sul (Brasil), sul de Minas Gerais (Brasil) e em Brasília (Brasil). As principais ameaças à espécie no estado do Rio Grande do Sul são provenientes da substituição da cobertura natural por plantios de culturas agrícolas anuais e cultivos florestais. As áreas prioritárias para conservação de P. agassizii estão carentes de unidades de conservação, sendo urgente a criação de novas áreas protegidas, concordando com áreas constantes como prioritárias para a conservação da biodiversidade, previstas pelo relatório do PROBIO. Tendo por base a necessidade de regime de perturbação para manutenção dos campos sulinos, entendemos que a pecuária extensiva é uma prática compatível com a conservação da biodiversidade e descartamos o uso do fogo controlado, devido aos efeitos negativos sobre a fauna, principalmente sobre as espécies criptozoicas, como é o caso de P. agassizii.