Utilização de ninhos artificiais por vertebrados e invertebrados, em um fragmento de mata Atlântica no sul do Brasil
Date
2015-02-23Metadata
Show full item recordAbstract
Cavidades arbóreas constituem um importante recurso natural presente em diversos hábitats, fornecendo sítios de reprodução e abrigo para artrópodes, aves e mamíferos. Entretanto, cavidades artificiais têm sido mais frequentemente utilizadas, no Brasil, como uma ferramenta que visa a conservação de psitacídeos ameaçados de extinção. Tendo em vista este fato, a presente dissertação teve como objetivo geral verificar como ocorre a utilização de ninhos artificiais por vertebrados e invertebrados. Neste trabalho foram testadas as seguintes hipóteses: 1) devido a uma possível carência de cavidades arbóreas na borda, haverá maior utilização de ninhos artificiais na borda do que no interior; 2) haverá maior utilização de cavidades artificias por abelha-doméstica na borda do que no interior; 3) por possuírem predadores naturais, as espécies nativas devem preferir ninhos grandes e ninhos com aberturas pequenas; 4) devido ao efeito de borda, haverá uma menor disponibilidade de cavidades arbóreas no interior do que na borda e 5) nas transecções com menor disponibilidade de cavidades arbóreas, haverá maior utilização de caixas-ninho. Para a realização deste trabalho foi selecionado um fragmento de Mata Atlântica subtropical, com área de 80 ha, localizado no município de Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil. Foram delimitadas 10 transecções (cinco na borda e cinco no interior do fragmento) onde foram instalados 120 ninhos artificiais (60 ninhos na borda e 60 no interior). Os ninhos foram instalados no mês de agosto de 2013 e monitorados a cada seis dias, entre setembro e dezembro de 2013 e entre setembro e dezembro de 2014. A fim de permitir a utilização dos ninhos por diversos grupos de animais, estes foram confeccionados com tamanhos médio e grande (20 cm de base x 30 de altura e 30 cm x 45 cm), com pouca ou grande profundidade (abertura no alto ou no meio do ninho) e aberturas pequenas (5 cm de diâmetro), médias (10 cm) e grandes (15 cm). No interior do fragmento, ocorreram 29 utilizações e na borda 31 utilizações. Hymenoptera foi o grupo mais frequente, correspondendo a 61,40% das ocupações (35 das 60 caixas ocupadas). Araneomorphae foi o segundo grupo mais frequente com 13 ninhos ocupados; nove ninhos foram ocupados por aves (gerando 17 filhotes, 16 de Pyrrhura frontalis e um filhote de Dendrocolaptes platyrostris). Os mamíferos foram o grupo menos frequente com apenas três caixas utilizadas (dois ninhos ocupados por Didelphis albiventris e um Guerlinguetus sp.). Foi constatada ainda uma maior disponibilidade de cavidades naturais no interior (50) do que na borda (14), o que através do teste estatístico de Mann-Whitney foi significativo (p = 0,04). De modo geral as espécies nativas procuraram mais cavidades com aberturas pequenas e pouco profundas, enquanto a espécie exótica (A. mellifera) mostrou-se generalista. Portanto a conservação de áreas florestadas é de extrema importância para manutenção de sítios reprodutivos, como as cavidades arbóreas, utilizados por diversas espécies da fauna silvestre.