Composição bioquímica e decomposição da parte aérea e raízes de culturas comerciais e plantas de cobertura de solo
Abstract
Os resíduos vegetais (RV) compostos pela parte aérea e raízes das plantas constituem a principal fonte de C para os solos agrícolas. Durante a decomposição desses RV no solo, parte do C é evoluído como CO2 e nutrientes são mineralizados, com destaque para o N. Dentre os fatores que
afetam a decomposição dos RV, a composição bioquímica exerce grande importância. Os objetivos do presente trabalho foram os seguintes: a) avaliar a produção de matéria seca (MS) e a composição bioquímica dos RV da parte aérea e de raízes de culturas comerciais e de plantas de cobertura de solo
de verão; e b) avaliar a influência da composição bioquímica sobre as biotransformações do C e do N, quando os RV são mantidos na superfície (parte aérea) ou incorporados ao solo (raízes). Foram realizados dois estudos, sendo que no primeiro quantificou-se a MS e a composição bioquímica dos RV da parte aérea (folhas e talos) e de raízes e no segundo estudo, avaliou-se em condições de laboratório por 120 dias, a mineralização do C e do N e os resultados obtidos foram correlacionados com a composição bioquímica dos RV estudados. A produção de MS de raízes variou de 0,54 a 2,86
Mg ha-1 nas culturas comerciais e de 0,56 a 1,66 Mg ha-1 nas plantas de cobertura de solo. O arroz e o milheto foram as espécies que apresentaram as maiores produções de MS da parte aérea e de raízes entre as culturas comerciais e as plantas de cobertura, respectivamente. A maior parte da MS de raízes foi encontrada na camada superficial do solo (0-10 cm) e próximo à linha de semeadura. A relação raiz/parte aérea média das plantas de cobertura foi inferior aquela das culturas comerciais (0,10 vs 0,17). Os RV apresentam ampla variação na sua composição bioquímica. O teor de N na MS dos RV variou de 2,8 g kg-1 (talos girassol) a 46,3 g kg-1 (folhas mucuna). A fração solúvel de Van Soest variou de 108 g kg-1 (talos de soja) a 774 g kg-1 MS (folhas de feijão). Enquanto que os valores de celulose na MS variaram de 138 g kg-1 (folhas feijão) a 612 g kg-1 (talos girassol) os de lignina
variaram de apenas 38 g kg-1 nas folhas de crotalária juncea a 197 g kg-1 nas raízes de soja. Os maiores teores de polifenóis foram encontradas nos RV da parte aérea (14,1 g kg-1 MS) e raízes (22,2 g kg-1 MS) da mucuna cinza. Os RV com teores de N inferior a 15 g kg-1 (C/N > 29) provocam imobilização líquida de N no solo. Todas as raízes das culturas comerciais avaliadas causaram imobilização de N no
solo, sendo que a predominância de mineralização líquida de N somente foi observada com as raízes das plantas de cobertura leguminosas. De maneira geral, a mineralização do C dos RV decresceu na seguinte ordem: folha > talo+folha > talo. Entre os RV das culturas comerciais, aqueles do milho
(folha + talo) foram os que apresentaram menor quantidade de C mineralizado (39%). A mineralização do C das raízes apresenta valores semelhantes àqueles observados para os RV da parte aérea. A mineralização do N no solo foi significativamente correlacionada com os teores de N total na MS e na fração solúvel de Van Soest dos RV da parte aérea e raízes (P < 0.01 e r2 variando de 0,90 a 0,98). Os valores de correlação entre a composição bioquímica dos RV e a mineralização do C foram menores do que aqueles observados para a mineralização do N, porém observou-se maior número de correlações significativas, com destaque para a relação C/N, polifenóis e FDN de Van Soest.