Celulares, conexões e afetos: a sociabilidade e consumo de smartphones entre jovens de comunidade popular
Abstract
Este estudo investiga o consumo de smartphones entre os jovens moradores de uma
comunidade popular localizada na região oeste de Santa Maria, interior do Rio Grande do Sul.
Nesta pesquisa, o consumo é compreendido por meio da cultura material e da importância que
o telefone celular possui na construção do cotidiano de cada sujeito. Dessa forma, optou-se por
uma investigação de caráter qualitativo, o estudo etnográfico, para compreender como os jovens
se relacionam com o telefone celular (smartphone) e como o dispositivo é responsável pela
manutenção e pela construção de suas redes de sociabilidade, tendo como enfoque principal as
questões relacionadas à (re)construção das relações afetivas com e por meio do dispositivo
móvel. A atividade de campo teve início em março de 2014, com a aproximação e a convivência
com 43 jovens educandos, em uma atividade educomunicativa na escola Anita Garibaldi.
A aproximação do campo teve duração de um ano letivo e foi concluída em dezembro de 2014.
Em janeiro de 2015, ocorreu a imersão no campo, com intuito de compreender melhor as
dinâmicas de posse e consumo do telefone celular por quatro jovens, Laura, Icaro, Anneliese e
Érika. Para tanto, foi utilizada, como técnica principal para obtenção dos dados etnográficas, a
observação participante, sendo possível, a partir da convivência com os jovens e seus familiares,
perceber a importância do dispositivo na mediação da experiência de consumo e relacionamento
desses sujeitos. Observou-se também que o dispositivo é responsável por mediar grande parte
do cotidiano desses jovens, bem como é o principal elo entre seus pares e aqueles que fazem
parte de sua rede de afinidade, tornando-se um dispositivo técnico-afetivo indispensável para
esses jovens na construção de suas conexões online e off-line. Nessa circunstância, foi possível
averiguar que os telefones celulares são compreendidos por esses jovens como objetos
significativos para a construção de suas sociabilidades, diante de um momento em que suas
relações extrapolam as relações face a face e ganham a ambiência digital. Da mesma forma, o
dispositivo serve como repositório de suas micromemórias afetivas, diante de uma construção
de afetos reais virtualizados na e pela máquina, capazes de construir uma cadeia afetiva a partir
dos usos e apropriações do dispositivo no dia a dia.