O brincar, a interação dialógica e o circuito pulsional da voz na terapia fonoaudiológica de crianças no espectro autístico
Abstract
Esta pesquisa analisa os efeitos da terapia fonoaudiológica de concepção interacionista, atravessada pela psicanálise, na evolução linguística e subjetiva de três sujeitos na faixa etária de 2 e 5 anos, realizada durante 10 meses, com freqüência de duas vezes por semana. A proposta baseou-se na visão de
intervenção precoce de Jerusalinsky e Coriat (s.d.), na abordagem do autismo relatada por Laznik (2004), e nas idéias de atividade lúdica livre e do brincar como terapêutico em si de Winnicott (1975). Também foram utilizados princípios
fonoaudiológicos produzidos a partir do deslocamento da teoria interacionista de aquisição da linguagem (De Lemos, 1992) e outros princípios sistematizados por Ramos (2008). A análise qualitativa realizada baseou-se nos autores
mencionados e também no conceito de circuito pulsional da voz proposto por Catão (2009). Os resultados demonstraram que a proposta foi efetiva e eficaz para auxiliar os sujeitos a avançarem em seu simbolismo, tanto no brincar quanto
na linguagem. Os sujeitos L. e C. evoluíram na linguagem de modo a ocupar as posições discursivas de pólo da língua e pólo falante/ouvinte. O sujeito A., ampliou sua exploração sensório-motora rumo ao simbolismo e passou a ocupar,
por vezes, a posição discursiva de pólo do outro. Os progressos foram obtidos tanto em função da evolução do brincar, quanto da fala sintonizada, em alguns momentos em manhês, projetada sobre esse brincar. Os familiares participaram dessa evolução tanto nas sessões conjuntas com o filho quanto pelo trabalho de entrevista continuada. O conceito de circuito pulsional da voz sistematiza os
investimentos terapêuticos no ouvir, se ouvir e se fazer ouvir, apresentando-se como aspecto teórico importante para o trabalho do Fonoaudiólogo em tempos de constituição psíquica.