Cultura e identidade surda no discurso curricular e seus efeitos na docência de professores formados no curso de Letras/Libras - Polo UFSM
Resumo
A presente pesquisa tem por objetivo principal problematizar a relação estabelecida entre o discurso curricular do curso de Letras/Libras (Polo UFSM) e a produção de identidades surdas docentes no campo da Educação de Surdos. Tal empreendimento investigativo propõe analisar a articulação entre os conhecimentos apresentados no currículo do referido curso e as experiências do cotidiano da sala de aula de professores surdos. Para isso, esta pesquisa toma como ferramentas teórico-metodológicas as produções dos campos dos Estudos Culturais em Educação e dos Estudos Surdos, a fim de compreender como esse currículo produz a docência de professores surdos que narram suas experiências envolvidas na articulação entre a comunidade surda e a educação de surdos. O corpus empírico da pesquisa está composto por três grupos de materiais: entrevistas com professoras surdas docentes de Libras, questionário com egressos do curso de Letras/Libras Polo UFSM e Proposta e Projeto Pedagógico do curso de Licenciatura de Letras Língua Brasileira de Sinais. Este trabalho de pesquisa pretende contribuir para a área da educação de surdos, entendendo as formas de constituição dos professores surdos do curso de Letras/Libras, que representam a sua cultura, a sua língua e a sua subjetividade através da possibilidade de trocas de significados em relação aos membros de outros grupos de surdos. Entende-se que, nessas trocas de significados, são produzidas e transmitidas as narrativas e experiências implicadas no ensino de Língua de Sinais. Com isso, o educador surdo torna-se constituidor de uma diferença surda, potencializando sua experiência pedagógica para o campo da educação de surdos; esses efeitos são perceptíveis na formação dos docentes surdos do curso de Letras/Libras. Esses docentes surdos negociam, consomem e fazem circular diferentes significados em torno das questões da língua, da cultura e da identidade no contexto da educação inclusiva. Portanto, os surdos são vistos como produtores e consumidores de cultura surda. As políticas de educação inclusiva, a partir da perspectiva em análise, são entendidas como um investimento biopolítico, pois se constituem como estratégias que controlam, governam e regulam as ações e as condutas dos sujeitos surdos, potencializando as práticas de autogovernamento e autoinvestimento dos professores de Libras.