A (re)organização da produção: um estudo da segurança alimentar nos assentamentos de reforma agrária Santa Rita e Sepé Tiarajú, município de Capão do Cipó (RS)
Resumo
A alimentação no meio rural passa por recentes transformações, em que a
reprodução social da família é marcada por instabilidades geradas pela negligência
de determinadas práticas comuns à agricultura de mão de obra predominantemente
familiar. Esta dissertação tem por objetivo identificar as possíveis razões que limitam
os agricultores a incluir na sua organização produtiva estratégias de segurança
alimentar, bem como caracterizar alguma provável potencialidade para reestabelecer
qualquer estratégias de segurança alimentar. Para elaboração desta
dissertação, realizou-se primeiramente um estudo teórico, para analisar a lógica
interna das famílias rurais, demonstrando que a garantia da alimentação é intrínseca
ao modo de vida dos sujeitos do meio rural, compondo o que chamamos aqui de
essência de agricultor e que garante a reprodução social das famílias. Neste estudo
teórico, foi realizado um resgate histórico das diferentes concepções que a
segurança alimentar tomou ao longo do tempo, analisando de que forma a
incorporação do discurso de desenvolvimento capitalista atinge o poder de observar
e decidir dos agricultores em relação ao agroecossistema, e, em conseqüência,
atingindo a forma de organização da produção. Nessa mesma perspectiva é
analisada também a proximidade do meio rural com o meio urbano, tentando-se
compreender até que ponto as famílias rurais re-determinam suas prioridades em
virtude da assimilação das particularidades do meio urbano. A partir desse esforço
teórico, partiu-se para o trabalho empírico, adotando os assentamentos de reforma
agrária Santa Rita e Sepé Tiarajú, situados no município de Capão do Cipó (RS),
através de entrevistas semi-estruturadas com as famílias-chave buscando demarcar
suas semelhanças e diferenças no que tange à organização da produção. De forma
geral, os resultados apontaram para um processo em que os assentados na busca
por acompanhar as orientações de adoção de tecnologias em sintonia com o
desenvolvimento capitalista, têm contribuído para romper com esse modo de vida
específico. Somado a esse fato, destaca-se que grande parte dos jovens destes
assentamentos está optando por sair do meio rural assumindo postos de trabalho no
meio urbano, com fins de buscar uma renda independente do trabalho agrícola sem
comprometimento com a perpetuação da família no lote. Partindo-se da ideia que a
organização da produção reflete as prioridades elencadas pela família, é possível
observar que as transformações ocorridas no núcleo familiar oriundas da negligência
das práticas de segurança alimentar, está vinculada tanto pela ruptura da essência
de agricultor como pela sintonia cada vez maior com as especificidades do meio
urbano