Primeiras estórias: a margem do intraduzível
Resumo
Entende-se a importância de acesso a textos de culturas distintas e escritos em diferentes línguas por meio das traduções, principalmente em dias atuais, em que a informação circula em escala global. Mais importante ainda é a difusão da obra literária de João Guimarães Rosa, autor brasileiro reconhecido mundialmente por sua criatividade e traduzido para inúmeros idiomas. Com o objetivo de analisar e comparar duas traduções de contos de Guimarães Rosa ao espanhol, elaborou-se este trabalho. Como corpus, escolheu-se quatro contos do autor: ―Sorôco, sua mãe, sua filha‖; ―A terceira margem do rio‖; ―O cavalo que bebia cerveja‖ e ―Nada e a nossa condição‖, do livro Primeiras Estórias, cuja primeira edição é de 1962. A primeira tradução integral do livro foi feita por Virginia Fagnani Wey, publicada em 1969, na Espanha e na Argentina pela Editora Seix Barral, e a segunda, publicada em 2001 pelo Fondo de Cultura Econômica, no México, foi realizada por Valquíria Fagnani Wey, no livro Campo General y otros relatos, que contém os quatro contos entre outros do autor. Como aporte teórico, utilizaram-se preceitos da estilística do texto, apresentando-se características do estilo rosiano, assim como da tradução e da crítica tradutória, em uma análise comparada dos textos em língua de partida e em língua de chegada. Para isso, fez-se uma exposição de termos recorrentes em tradução, como equivalência, fidelidade, originalidade, apresentou-se o projeto analítico proposto por Berman (1995), seguido para a elaboração deste trabalho, bem como alguns aspectos do gênero conto e a importância da obra de Guimarães Rosa em países de fala hispânica. Por fim, procedeu-se a análise contrastiva dos textos, com a busca de zonas textuais problemáticas, considerando aspectos como adjetivação, emprego lexical, tradução de figuras de linguagem, uso de tempos e modos verbais, entre outros, na tentativa de compreender o processo e a escolha das tradutoras ao realizarem seu trabalho. Entende-se a complexidade de traduzir textos de um autor como Guimarães Rosa. Também se conhecem os preceitos orientadores na época em que foi publicada a primeira tradução, o que justifica um texto que apresenta termos equivalentes, no sentido de sinônimo ‗perfeito , resultando uma tradução deveras semelhante ao texto de partida, mas que aparenta ser artificial, por vezes apresentando erros básicos de um iniciante em um idioma estrangeiro, como uso de falsos amigos. A segunda, conforme citado por sua tradutora, é construída baseada na primeira, configurando, assim, uma atualização. Realizada mais de trinta anos depois, o fato é que pouco foi modificado em relação à primeira. Corrigiram-se alguns erros evidentes, mas avançou-se pouco. A obra de João Guimarães Rosa merece tratamento especial e, talvez, somente um profissional de nível intelectual aproximado ao dele, possuidor de vasto conhecimento linguístico e literário, profundo conhecedor da língua portuguesa e da língua do texto de chegada, com um grande apoio paratextual, possa produzir uma tradução à altura de sua escritura.