O vernáculo brasileiro na contemporaneidade
Abstract
A mobilização de coletividades, na atualidade, está se reinventando por conta de desafios
particulares (DUFOUR, 2005). O processo de globalização é um exemplo, uma vez que se
sobrepõe às fronteiras geopolíticas consolidadas em outro tempo, enquanto o avanço do
capitalismo aplaca sujeitos. Com isso, a estabilização da memória cultural é posta em xeque
porque toda anterioridade é afetada por esse rearranjo que provoca a fragmentação do sujeito.
Decorre daí uma tensão entre língua e definição do vernáculo nela instaurado. Diante dessa
questão, este trabalho tem como tema o fato de documentar/atualizar o vernáculo brasileiro
consistir em um duplo desafio na contemporaneidade: 1) a constante redefinição exigida do
sujeito contemporâneo reacentua a individualidade em detrimento de padrões coletivos; 2) o
senso vernacular brasileiro está ligado à língua portuguesa, ou seja, língua, a priori, do outro.
O objetivo é problematizar a noção de vernáculo brasileiro na atualidade. A referência teórica,
por sua vez, abrange os processos de subjetivação na história da cultura ocidental (AMORIM,
2007) e, consequentemente, na historicização do Brasil e trata dos conceitos de língua, escrita
e memória (BAKHTIN/VOLOCHINOV, 1999; ORLANDI, 2009; GUIMARÃES, 2005). A
pesquisa é feita a partir da análise dialógica do projeto ideológico-autoral de Eles eram muitos
cavalos, uma narrativa contemporânea, de Luiz Ruffato, que, ao trazer o recorte da vida que
compõe a maior cidade brasileira, tematiza a tensão entre sujeito e linguagem, constituindo
espaço relevante para investigação da questão conflituosa do vernáculo brasileiro hoje. O
romance trata do sujeito brasileiro na contemporaneidade, construído em meio ao conflito
entre a fragmentação e a possível identidade vernácula nela flagrada. O desafio final do
trabalho é distinguir por que, de algum modo, a pluralidade documentada no texto pode
apontar para uma constituição de unidade.