"Um agricultor exemplar": linguagem avaliativa no gênero história de vida
Abstract
A difusão social dos meios de comunicação de massa tem propiciado o surgimento de novos gêneros textuais na atualidade. Entre eles, estão as histórias de vida, que são publicadas por um jornal de cooperativa agropecuária e circulam no meio rural das regiões oeste, extremo-oeste e planalto-norte do estado de Santa Catarina. Este estudo procura descrever esse gênero, em especial, a linguagem avaliativa que o configura. Também visa a testar a viabilidade da Teoria da Valoração quando aplicada à Língua Portuguesa e o uso de ferramentas computacionais nesse tipo de análise. Para tanto, foi selecionado um corpus composto por 23 exemplares das histórias de vida, publicados no ano de 2005, o qual foi analisado sob as categorias de campo e conteúdo ideacional (Halliday, 1997), movimentos retóricos (Swales,
1990), índices de atitude e vozes do discurso jornalístico (Martin e White, 2005). Para complementar a análise decorrente da leitura das histórias de vida, utilizamos as ferramentas do programa computacional WordSmith, que forneceu dados sobre freqüência lexical e ocorrência dos termos no contexto lingüístico. Informações contextuais sobre o gênero foram obtidas através de entrevistas com produtores e consumidores das histórias de vida e de observação participante no local de produção do jornal. Os resultados indicam que os movimentos retóricos das histórias
de vida são, por um lado, estreitamente dependentes do contexto de produção das entrevistas e, por outro, dos objetivos comunicativos do gênero. O conteúdo ideacional dos textos, por sua vez, é idêntico em todos os exemplares, centrando-se no processo de crescimento econômico do personagem. Em relação à linguagem avaliativa, as histórias de vida compreendem principalmente índices de julgamento,
tanto explícitos quanto implícitos, baseados em estima social positiva, os quais são intensificados pelo uso dos advérbios sempre e nunca e de linguagem conotativa. A voz predominante no discurso do gênero é a voz do correspondente, na qual estão presentes julgamentos autorais de estima social. Assim, por meio desses recursos de linguagem, as histórias de vida concretizam seu objetivo retórico que é o fornecimento de um exemplo de agricultor para os demais agricultores, visando à permanência do homem no campo e ao aumento da produção e da produtividade
agrícola.