O sujeito entrelínguas: um caso de funcionamento semântico-sintático em produções escritas de estudantes hispanofalantes de PLE
Resumo
De acordo com os pressupostos teóricos da Semântica do Acontecimento (GUIMARÃES, 2005), o presente estudo objetiva analisar o funcionamento enunciativo no plano da organização dos enunciados produzidos por alunos intercambistas dos cursos de Português para Estrangeiros oferecidos pelo Entrelínguas, buscando analisar os efeitos de sentido produzidos pelos arranjos sintáticos provenientes das produções escritas desses aprendizes. Em específico, objetivamos analisar os efeitos de construções pouco recorrentes, do ponto de vista do falante de Português Brasileiro (PB), relativas à inclusão do sujeito na coletividade, na constituição dos sentidos das línguas Espanhol e Português Brasileiro -, lançando um olhar voltado ao funcionamento semântico-sintático dos recortes enunciativos. Para tanto, primeiramente, selecionamos dez (10) produções de dez (10) alunos, recortando os enunciados que revelam a inclusão do sujeito na coletividade. Posteriormente, dividimos os enunciados em dois grupos que representam duas organizações sintáticas distintas. E, por último, construímos um quadro comparativo em relação aos aspectos sintáticos das duas línguas Espanhol e Português Brasileiro , referentes: à aparente discordância entre a 3ª pessoa do plural e a 1ª pessoa do plural e ao uso da 1ª pessoa do plural em lugar da 1ª pessoa do singular, para, então, proceder às análises: descritiva (plano do dizer) e enunciativa (plano do dito). Na análise descritiva, realizamos testes de aceitabilidade (GUIMARÃES, 2002a), considerando a norma do PB. Já, na análise enunciativa, realizamos nosso estudo a partir de duas cenas enunciativas que revelam modos distintos de inclusão do sujeito na coletividade, mobilizando, assim, as categorias de locutor e enunciador, difundidas por Guimarães (2005). Os resultados mostraram que, no plano das formas das línguas, tais formulações podem ser consideradas erros por parte do sujeito aprendiz, tendo em vista que a análise descritiva mostra que os arranjos sintáticos são, no mínimo, pouco recorrentes no Português Brasileiro. Já, no plano enunciativo, percebe-se o sujeito sendo significado por essa divisão entre as línguas. Esta divisão constitui o lugar de resistência na língua. E este lugar de resistência é o que vai marcar o posicionamento político desse sujeito na linguagem, pois ele se marca na língua pela forma (nós) e pela maneira como organiza sua enunciação (sintaxe). Com isso, pudemos evidenciar que a organização interna dos enunciados se constitui como uma marca na língua que, por sua vez, vai revelar a subjetividade e produzir sentidos.