Entre o real e o imaginário: configurações de uma utopia feminina em A Rainha do Ignoto, de Emília Freitas
Resumo
Esta pesquisa pretende discutir a exclusão da autoria feminina do século XIX dos estudos literários, tendo como
corpus a obra A Rainha do Ignoto (1899), de Emília Freitas. Essa escolha mostra-se relevante tendo em vista
que, ao longo do século XIX e boa parte do século XX, os críticos e teóricos da literatura excluíram a autoria
feminina do cânone literário. Embora essa exclusão seja falsamente justificada pela falta de qualidade estética
e artística das obras, sabe-se que na realidade ela somente ocorreu porque a lógica patriarcal construiu- se
sobre inúmeros paradigmas baseados na inferioridade cognitiva natural das mulheres . A discussão proposta
aqui somente tornou-se possível graças ao resgate arqueológico realizado por pesquisadores que retiraram das
margens literárias diversas obras escamoteadas ao longo desse período. Para analisar a obra que constitui o
corpus dessa pesquisa, inicialmente, partir- se-á da crítica literária feminista para entender os desdobramentos da
exclusão da autoria feminina da tradição literária. Em vista disso, verificar-se-ão algumas exclusões da autoria
feminina no decorrer do século XIX, considerando que praticamente não há produção literária feminina no Brasil
antes de 1800. Posteriormente, discutir-se-á a obra sob o viés teórico literário feminista, dando ênfase às
concepções de Heloísa Buarque de Hollanda (1994) e Elaine Showalter (1994). Em seguida, tratar-se-á
especificamente da obra A Rainha do Ignoto, contextualizando a vida e produção de sua autora, Emília
Freitas, tendo como base as pesquisas de Alcilene Cavalcante (2008). No contexto de discussão sobre a
obra, partir-se-á do paradigma de que ela se insere dentro da literatura utópica do romance ocidental, tendo como
referência Raymond Trousson (1979), Carlos Eduardo Ornelas Berriel (2012) e Ana Cláudia Romano Ribeiro
(2010).