Camundongos infectados experimentalmente com Trypanosoma cruzi: efeito da doença de chagas sobre as enzimas purinérgicas e testes de um novo protocolo tripanocida
Resumo
A Doença de Chagas é uma zoonose causada pelo Trypanosoma cruzi, presente principalmente na América Latina causando graves problemas de saúde em cerca de 7 milhões de pessoas em regiões endêmicas. Considerando que a Doença de Chagas prossegue ineficaz na cura e que o tratamento possui diversos efeitos colaterais, novas alternativas para o tratamento devem ser avaliadas. Portanto, o objetivo deste estudo foi avaliar a eficácia do tratamento com cordicepina (análogo de adenosina) e pentostatina (inibidor da enzima adenosina desaminase) em camundongos experimentalmente infectados com T. cruzi e também verificar se o sistema purinergico é afetado e tem participação na patogenia da Doença de Chagas, visto que, nucleosídeos e nucleotídeos da cascata purinérgica estão envolvidos na fisiopatologia de várias infecções parasitárias. O delineamento do estudo foi dividido em quatro protocolos experimentais. No protocolo experimental I, os animais foram divididos em dois grupos (n=6): grupo controle (não infectadas com T. cruzi) e grupo infectado (infectadas com T. cruzi) e assim foi investigado o efeito das enzimas purinérgicas em plaquetas, linfócitos e coração de camundongos infectados experimentalmente por Trypanosoma cruzi (cepa Y). Como resultado observou-se um aumento na atividade da E-NTPDase (substratos ATP e ADP) e da atividade da E-ADA em linfócitos em camunbdongos infectados com T. cruzi (P<0,01). No coração foi observado a presença de infiltrados inflamatórios, assim como múltiplos pseudocistos contendo amastigotas, no entanto a atividade da NTPDase não alterou-se no grupo infectado com T. cruzi, porém foi observado uma redução na atividade da 5'-nucleotidase (P<0,001) e um aumento na atividade de ADA nos infectados (P<0,05). A atividade de E-NTPDase (substratos ATP e ADP), E-5'nucleotidase e E-ADA em plaquetas aumentaram significativamente (P<0,05) em camundongos infectados por T. cruzi. No protocolo experimental II os animais foram divididos em 10 grupos com seis animais (5 grupos controles e 5 grupos infectados), no qual, os animais dos grupos infectados foram inoculados com 104 triposmastigotas da cepa Y. Neste protocolo experimental II foi avaliada a eficácia do tratamento com cordicepina e pentostatina (isolados ou em combinações), bem como o efeito do tratamento sobre as enzimas purinérgicas in vivo. A partir desse delineamento constatamos a ineficácia curativa do protocolo experimental, apesar de ter reduzido a parasitemia. Tambem verificamos que as atividades séricas de NTPDase (ATP; P<0,001, ADP; P<0,05) e ADA (P<0,001) foram superiores em camundongos não tratados, mas infectados por T. cruzi. No entanto, os camundongos tratados com combinação de 3'-desoxiadenosina e desoxicoformicina foram capazes de modular a atividade de NTPDase (ATP e substrato ADP) e a ADA, impedindo o aumento nos animais infectados (atividade semelhante a animais saudáveis). A atividade da 5'-nucleotidase diminuiu significativamente (P<0,01) nos animais não tratados e infectados, porém o tratamento associado impediu a redução da atividade da 5'-nucleotidase. No protocolo experimental III, os animais foram divididos 5 grupos com seis animais (1grupo controle e 4 grupos infectados), no qual, os animais dos grupos infectados foram inoculados com 104 triposmastigotas da cepa resistente ao benzonidazol (cepa Colombiana). Neste protocolo experimental III foi avaliada a eficácia do tratamento com cordicepina e pentostatina (isolados ou em combinações). Neste protocolo também foi realizado testes in vitro para avaliar a eficácia dos compostos frente ao T. cruzi. Nesse experimento os resultados foram similares ao experimento II, isto é, ineficácia curativa em camundongos infectados com T. cruzi. Já no experimento in vitro foi observado uma redução significativa (P <0,001) de epimastigotas e tripomastigotas em grupos tratados com cordicepina e pentostatina (isolada ou combinada), em todas as doses testadas. Para epimastigotas e tripomastigotas a dose letal da associação de cordicepina com pentostatina capaz de matar 50% (DL50) dos parasitas foi de 0,068 mg/mL e 0,027 mg/mL, respectivamente. No protocolo experimental IV, os animais foram divididos em dois grupos (n=6): grupo controle (não infectadas com T. cruzi) e grupo infectado (infectadas com T. cruzi). Os animais do grupo infectado foram inoculados com 104 triposmastigotas da cepa colombiana e foi avaliado o efeito da doença sobre as concentrações séricas de purinas. Neste protocolo observou-se aumento significativo (P <0,05) nos níveis séricos de adenosina trifosfato (ATP), adenosina difosfato (ADP), adenosina (ADO), inosina (INO) e ácido úrico (URIC) em animais infectados. Já os níveis de adenosina monofosfato (AMP) e xantina (XAN) reduziram significativamente (P <0,05). Portando, podemos concluir de modo geral que a infecção por T. cruzi altera as enzimas do sitema purinérgico, assim como os níveis de purinas, demonstrando que estão diretamente ligadas com a fisiopatologia da Doença de Chagas. Já o protocolo terapêutico, na dose utilizada, não deve ser recomendado para o tratamento da Doença de Chagas, pois não teve eficácia curativa.
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