A angiotensina II regula a esteroidogênese nas células da teca bovina?
Resumo
Diversos estudos vêm sendo desenvolvidos para caracterizar o sistema renina
angiotensina (RAS) no aparelho reprodutivo feminino. Evidências da literatura apontam um
importante papel da angiotensina II (Ang II), via receptor tipo 2 (AT2), tanto na maturação
dos oócitos quanto na ovulação em mamíferos. No entanto, a participação da Ang II em
outros aspectos reprodutivos importantes, como a esteroidogênese, ainda não foi
completamente elucidada. Desta forma, o objetivo deste trabalho foi verificar o efeito in vitro
da Ang II nas células da teca cultivadas. Para isso, células da teca bovina foram obtidas de
folículos com mais de 8mm de diâmetro de ovários oriundos de abatedouro local e submetidas
a diferentes tratamentos em uma sequência de experimentos. No experimento 1, Ang II foi
adicionada a células da teca tratadas com LH na dose de 10 ng/ml. No experimento 2, foi
utilizada Ang II em diferentes concentrações em adição ao tratamento com insulina (100
ng ̸ml) e LH (100 ng ̸ml). O experimento 3, explorou o possível efeito de um antagonista da
Ang II (saralasina) em células da teca co-estimuladas com insulina e LH (ambos em 100
ng ̸ml). Após 24 horas, o meio de cultura foi coletado e avaliado para verificação dos níveis
de testosterona e androstenediona aferidos pela técnica de cromatografia líquida de alta
performance (HPLC). Em paralelo, a expressão gênica de enzimas e proteínas chaves na
esteroidogênese, respectivamente, HSD3B2, CYP11A1 e CYP17A1 e STAR, foram avaliadas
por qRT-PCR, com exceção do experimento 1 onde somente a CYP17A1 foi estudada. De
maneira geral, não foi observada uma ação da Ang II nas doses utilizadas. Apesar de uma
diferença na expressão de CYP17A1 ter sido verificada em relação aos controles, nem o
aumento dos níveis de androgênios ou um impacto negativo pelo uso de saralasina foram
detectados. Embora reconhecida como muito importante para maturação oocitária e ovulação,
a Ang II parece não influenciar a produção de androgênios in vitro. Em conclusão, nossos
resultados não demonstraram um papel da Ang II na esteroidogênese tecal, pelo menos na
espécie bovina, ao contrário da hipótese original deste estudo.