Efeitos neurocomportamentais promovidos pela cafeína em duas populações de peixe-zebra
Resumo
O peixe-zebra (Danio rerio) é um organismo modelo emergente na neurociência comportamental. Dentre as características que tornam esse organismo experimental atraente para pesquisas científicas, podemos citar o tamanho diminuto, o baixo custo, a facilidade para manutenção, a alta taxa de proliferação e o rápido desenvolvimento até a fase adulta. As populações de peixe-zebra do tipo selvagem (WT) e leopardo (leo) possuem diferenças comportamentais significantes e a população leo apresenta um acentuado comportamento basal ansiogênico. Dentre as diferentes moléculas que modulam o comportamento do tipo ansiedade, a cafeína é a substância psicoestimulante mais consumida nas dietas ocidentais. Apesar dos seus efeitos ansiogênicos já terem sido descritos na literatura, a influencia dos efeitos mediados pela cafeína em populações com distintos padrões de ansiedade ainda não é bem compreendida. Em virtude da neurofenotipagem ser facilmente avaliada no peixe-zebra, o qual apresenta um comportamento exploratório capaz de ser analisado temporalmente e espacialmente em três dimensões, o presente estudo tem por objetivo investigar os efeitos mediados pela cafeína nas respostas de habituação à novidade e nos comportamentos locomotores, exploratórios e do tipo ansiedade. Para esse propósito, peixes-zebra foram expostos agudamente à cafeína (25, 50, 100 e 200 mg/L) por 15 minutos e logo após, foram transferidos individualmente a um novo aquário para a avaliação comportamental. A análise das variáveis comportamentais e a reconstrução do nado exploratório em três dimensões demonstraram que a cafeína possui efeito ansiogênico dependente de concentração, por alterar o nado vertical, episódios de congelamento e nado errático. Um efeito ansiogênico proeminente foi observado na resposta de habituação à novidade em WT, sugerindo um papel do fenótipo nas respostas comportamentais mediadas pela cafeína. Além disso, um padrão de nado anômalo foi observado na concentração de 200 mg/L em alguns indivíduos de ambas as populações, o que poderia refletir uma potencial neurotoxicidade da cafeína em altas concentrações. Em suma, o presente trabalho demonstrou que os efeitos da cafeína no peixe-zebra são dependentes de concentração e das populações estudadas. Ademais, o uso de diferentes populações de peixe-zebra poderá servir como uma estratégia para estudos do comportamento tipo ansiedade em futuros estudos farmacológicos.
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