Mecanismos de ação do resveratrol na diferenciação neural in vitro e na sinalização purinérgica em camundongos infectados com Toxoplasma gondii
Resumo
O desenvolvimento do sistema nervoso central (SNC) envolve eventos que incluem a proliferação de células precursoras neurais (CPNs) que se diferenciam e migram em um processo controlado a fim de formar conexões e redes funcionais. Neste contexto, sabe-se que o Toxoplasma gondii é um parasito intracelular neurotrópico e pode exercer um papel importante influenciando a determinação do destino neural. Além disso, o T. gondii é capaz de ocasionar a neurotoxoplasmose em humanos, induzir ao aborto espontâneo além de provocar alterações comportamentais e danos oxidativos às células do hospedeiro. Entretanto, o mecanismo subjacente à neuropatogênese da toxoplasmose permanece elusivo. Recentemente, o sistema purinérgico emergiu como uma importante via de sinalização na resposta imune contra diferentes infecções, incluindo a toxoplasmose. A ligação de nucleotídeos e nucleosídeos extracelulares, em especial a adenosina trifosfato (ATP) e a adenosina (ADA) a seus receptores P2X7, P2Y1, A1 e A2A estimulam a ativação de células microgliais, bem como a secreção de citocinas pró e antiinflamatórias contribuindo para a resposta imune contra o parasito. Considerando que a toxoplasmose é uma doença parasitária com ampla distribuição mundial, grande potencial zoonótico e difícil tratamento, essas hipóteses motivaram o objetivo deste estudo que foi investigar os efeitos do resveratrol (RSV), um potente antioxidante e antiinflamatório naturalmente encontrado em uvas, sobre a atividade de enzimas envolvidas na neurotransmissão cerebral, bem como avaliar seus efeitos na proliferação/auto-renovação, migração e neurogênese de CPNs obtidas de embriões infectados com T. gondii. Para explorar o papel do T. gondii no desenvolvimento das células-tronco, as CPNs foram isoladas de embriões obtidos de camundongos prenhas experimentalmente infectadas com cepa VEG de T. gondii. Dessa forma, as CPNs proliferam na presença de fatores de crescimento tornando-se multipotentes e formando neuroesferas. Os resultados experimentais demonstraram que o T. gondii aumenta a proliferação e a migração de CPNs, além de estimular a gliogênese em detrimento da neurogênesena condição da infecção. Dentre as concentrações de RSV testadas, 1μM e 10μM exerceram melhores efeitos sobre a neurogliogênese de CPNs infectadas. Além disso, a infecção por T. gondii alterou – aumentou a atividade da enzima NTPDase e reduziu a atividade da ADA em CPNs infectadas, aumentando a expressão do receptor P2X7 e reduzindo a expressão do receptor A2A de adenosina. Essa modulação na atividade das enzimas e dos receptores estimulou a produção de citocinas pró-inflamatórias pelas células do hospedeiro contribuindo para o processo inflamatório no SNC. Entretanto, o tratamento com RSV foi capaz de reduzir a atividade das enzimas NTPDase e ADA inibindo o receptor P2X7 e estimulando o transporte de adenosina para o meio intracelular via receptor A2A, diminuindo a viabilidade celular. Camundongos adultos infectados por T. gondii apresentaram um aumento na atividade das enzimas NTPDase e 5´-NT, porém uma redução na ativididade da ADA foi observada. Os resultados sugerem uma maior hidrólise do ATP, o qual se liga aos receptores P2X7 e P2Y1. O RSV ainda, exerceu seu efeito neuromodulador ao reduzir a atividade das enzimas analisadas e a densidade dos receptores purinérgicos. No curso da infecção, a ADA extracelular liga-se aos receptores A1 e A2A de adenosina, os quais são o modulados pelo RSV de modo a prevenir o dano oxidativo. A transmissão materno fetal do T. gondii induz a um comportamento do tipo ansiogênico com perda de memória. Mais uma vez, o RSV exerceu neuroproteção reparando as alterações comportamentais observadas. Juntos, os resultados deste estudo propõem a ativação da sinalização purinérgica pelo T. gondii e demonstram os efeitos antiinflamatório e neuroprotetor mediado pelo RSV sugerindo esta molécula como um potencial alvo terapêutico para o tratamento da neurotoxoplasmose.
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