Compostos bioativos em uvas ‘Isabel’: influência da radiação UV-C e potencial protetor em modelo de colite ulcerativa em ratos
Resumo
Os objetivos deste estudo foram avaliar o efeito da irradiação UV-C pós-colheita sobre marcadores de
defesa antioxidante de uvas ‘Isabel’ e estudar o potencial protetor do pó da casca de uva (PC) e suas
frações bioativas (compostos fenólicos livres, PE; fenólicos associados à fibra, RE; e fibra alimentar,
RF) em um modelo de colite em ratos. Uvas ‘Isabel’ foram tratadas com diferentes doses de UV-C (0,
0,5, 1, 2 e 4 kJ/m2) e armazenadas por 1, 3 ou 5 dias para avaliação da sua capacidade antioxidante
enzimática e não-enzimática através da determinação da atividade da superóxido dismutase (SOD),
catalase (CAT), glutationa redutase (GR), do conteúdo de tiois e da capacidade de remoção de radicais
superóxido e peroxil. No dia seguinte à irradiação, houve aumento dos níveis de tiois e da atividade das
enzimas antioxidantes, especialmente quando doses intermediárias (1 e 2 kJ/m2) foram usadas. Estas
mesmas doses também aumentaram os níveis de fenólicos, enquanto que as doses de 0,5 e 4 kJ/m2 não
apresentaram efeito. Os níveis de antocianinas aumentaram cerca de 35% após irradiação com 1 kJ/m2,
considerada a dose hormética, porém não houve alteração no perfil de antocianinas. No experimento
envolvendo a indução de colite, ratos Wistar receberam dietas suplementadas com 8% de pó da casca
de uva (PC) ou suas frações bioativas (PE, RE e RF) por 15 dias antes da indução da colite
(administração intraretal de 2,4,6-ácido trinitrobenzenosulfônico, TNBS, 10 mg/animal) e por mais 7
dias após a indução. PE, RE e RF foram adicionadas em quantidades equivalentes às encontradas no
PC. PC apresentou 25% de fibra alimentar e 776 mg de compostos fenólicos/100 g. PE apresentou 80%
de antocianinas e RE um teor de 78% de fibra alimentar e 7,7% de fenólicos ligados à fibra. O ganho de
peso prévio à indução da colite não diferiu entre os grupos. O consumo de ração diminuiu após a colite
e apenas o grupo PE não restabeleceu a ingestão alimentar, além de apresentar efeitos adversos após a
exposição ao TNBS. Tais danos não foram observados quando os fenólicos estavam ligados à matriz,
como em PC. A colite aumentou a peroxidação lipídica, oxidação proteica, níveis de óxido nítrico (NO)
e citocinas inflamatórias a nível tecidual e sistêmico, além de ativar a via do NF-κB. A dieta PC reduziu
os marcadores inflamatórios, restaurou a atividade da SOD e CAT e diminuiu a oxidação tecidual e os
níveis de NO. Apenas RE reduziu a expressão proteica de pNF-κB e a infiltração de neutrófilos. A colite
reduziu os níveis de tiois e a atividade daGR, SOD, CAT, glutationa peroxidase (GPx) e glutationa-Stransferase
(GST) no cólon, além de aumentar a expressão gênica de ambas as subunidades da
glutamato-cisteína ligase (GCL). PC e RE restauraram a atividade da GPx. Todas as dietas experimentais
reduziram a expressão da proteína IKK-β e os níveis de NO no cólon, além de terem aumentado
parcialmente os níveis de tiois e restaurado as atividades da GR e da GST. O efeito sobre o sistema da
glutationa foi atribuído à reciclagem da glutationa ao invés da sua síntese de novo. A colite também
induziu apoptose no tecido colônico e RE e RF reduziram este efeito. As frações bioativas do PC não
protegeram contra os danos macroscópicos e o PE agravou a lesão. PC, PE e RE reduziram a expressão
gênica de claudina-2 e a fração RF aumentou a expressão gênica de zônula ocludens e ocludina. A colite
reduziu cerca de 30% a produção de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC) e PC e RE reverteram este
efeito, enquanto RF foi ineficaz. Os efeitos protetores do PC no cólon foram associados à inibição da
via NF-κB, à redução dos níveis de NO e citocinas inflamatórias, à melhora da atividade das enzimas
antioxidantes, da função de barreira intestinal e da produção de AGCC. A fibra dietética e os fenólicos
ligados à fibra foram mais eficazes do que os fenólicos solúveis na proteção contra a colite e o consumo
de pó de casca de uva pode ser investigado como uma alternativa benéfica para pacientes com
inflamação intestinal.
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