Politicamente (in)correto: a reescrita e ressignificação de canções infantis
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Data
2022-02-22Primeiro membro da banca
Sousa, Lucília Maria Abrahão e
Segundo membro da banca
Scherer, Amanda Eloina
Metadata
Mostrar registro completoResumo
No presente estudo, dedicamo-nos a compreender o discurso considerado politicamente (in)correto em reescritas e ressignificações de canções infantis, que na contemporaneidade passaram a circular com mais frequência nas mídias sociais e na rede. A utilização da estrutura politicamente (in)correto é vista, em nosso trabalho, como uma indicação de que determinadas situações de uso de língua, quando verbalizada, provocam determinados efeitos de sentido que passam a caracterizar determinados grupos ou classes sociais (SALACHE; VENTURINI, 2013) e, diante disso, nem sempre um discurso que foi alvo de “correção” pode ser visto como realmente politicamente correto. Este estudo objetiva compreender, ao mesmo tempo, o lugar ocupado pelo sujeito acerca do já-dito, do que é visto como politicamente incorreto, como também o espaço que abrange para ser o sujeito do que diz, o que passa a ter uma mirada politicamente correta. Assim, nossa questão de pesquisa se estabeleceu na direção do seguinte questionamento: qual a relação entre as canções populares infantis e a linguagem politicamente (in)correta, diante dos gestos de interpretação investidos pelos sujeitos que constroem as (suas) versões de cantigas populares infantis, em um processo de (des)construção de discursos? Em função disso, selecionamos, como corpus desta pesquisa, onze canções infantis, que passaram a circular em mídias sociais, sendo oito em língua portuguesa e três em língua espanhola, ancorando-nos, em nossas análises, ao aparato teórico-metodológico da Análise de Discurso, doravante AD, de matriz francesa. Diante disso, nossas análises possibilitam observar que os efeitos de sentido veiculados pelas canções populares infantis em língua portuguesa, muitas vezes, imprimem efeitos de sentido de apagamento, pois há uma remoção de conteúdos considerados incorretos. Em grande minoria, algumas canções, em suas reescritas, reconhecem o impacto nocivo que o discurso presente em suas versões originais teve e assim, retomam dizeres antes já-ditos, por um processo polissêmico e reiteram a forma de representação das canções, que são clássicos infantis, muitas delas, conhecidas mundialmente. Como efeito de fechamento, os efeitos de sentido que funcionam diante de uma certa busca de precisão em tornar correta uma canção incorreta, provocam uma ilusão do controle sobre os sentidos e, portanto, transformam o correto em politicamente (in)correto. Em relação à descontinuidade, presentificado pelo efeito da polissemia, faz funcionar o político na língua, em um gesto de interpretação dos sujeitos compositores, que vai ao encontro de uma luta por direitos, ainda que esse seja um processo que altera o linguístico, buscando pela língua, pela canção, pela voz do sujeito que enuncia e que se torna sujeito ao cantar, a ressignificação do imaginário que se tem sobre determinados grupos sociais que são marginalizados e estereotipados.
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