Avaliação anatomopatológica de fígado, rim, pulmão e cérebro de camundongos expostos ao composto ditelureto de difenila
Abstract
O ditelureto de difenila (PhTe)2 é um composto orgânico de telúrio amplamente usado na indústria, como na produção industrial de borracha, aço e vidro, indústria de nanopartículas, painéis solares, semicondutores bem como intermediário em reações de síntese orgânica. Vários estudos têm demonstrado que esse composto causa diversos efeitos tóxicos em diferentes tecidos. Dentre esses, destacam-se os teratogênicos, os genotóxicos e os neurotóxicos. Embora os mecanismos de ação envolvidos na citotoxicidade mediada pelo composto não se encontrem totalmente esclarecidos, sua atividade pró-oxidante está diretamente ligada a sua toxicologia. Inibição de enzimas sulfidrílicas e antioxidantes, depleção de tióis e peroxidação lipídica são alterações bioquímicas encontradas em tecidos como sangue, cérebro, fígado e rim de animais expostos ao composto. Por outro lado, são raros na literatura estudos histopatológicos mostrando os efeitos da exposição ao (PhTe)2 em órgãos específicos. Assim, o presente estudo teve como objetivo realizar a avaliação anatomopatológica de cérebro, rim, fígado e pulmão de camundongos expostos, via subcutânea, de forma aguda (1 dose de 250 μmol/kg) e subcrônica (doses de 10 e 50 μmol/kg por 7 e 14 dias) ao composto. As análises histológicas revelaram que os hepatócitos dos animais expostos subcronicamente a ambas as doses do composto desenvolveram extensa vacuolização do citoplasma ou degeneração hidrópica e núcleos hipercromáticos. A exposição subcrônica a 50 μmol/kg também induziu hepatite focal e não específica, e necrose focal. Esteatose hepática foi verificada nos animais agudamente expostos ao composto. Em rim, a intoxicação aguda e subcrônica com (PhTe)2 provocou degeneração vacuolar ou degeneração hidrópica, atrofia e hipertrofia de túbulos renais, formação de moldes (casts) hialinos e necrose tubular aguda. Edema e congestão vascular foram encontrados nos pulmões dos animais expostos a 50 μmol/kg de (PhTe)2. A análise histológica do tecido cerebral revelou que a exposição aguda e subcrônica ao (PhTe)2 induziu alterações neurodegenerativas (vacuolização do neurópilo, status spongiosus) na região do tálamo e hipocampo. A presença de picnose nuclear de neurônios, a perda de viabilidade neuronal e foram particularmente observados no na camada granular do hipocampo. Adicionalmente, através de técnica imunoistoquímica, foram identificadas reação glial e perda de atividade pré-sináptica na região do tálamo e córtex, correspondentes às áreas de alteração espongiforme. Nossos achados sugerem que a exposição ao (PhTe)2, por via subcutânea, provoca severas alterações morfológicas em fígado, rim, pulmão e cérebro. Os dados obtidos contribuirão de forma significativa para aumentar o conhecimento sobre a toxicologia do composto (PhTe)2, uma vez que, este é o primeiro trabalho que avalia a histologia de tecidos de vários órgãos após a intoxicação com o composto.