Análise morfométrica intraespecífica de duas espécies de Aegla (Crustacea: Decapoda: Anomura) com ampla distribuição geográfica
Abstract
Crustáceos do gênero Aegla ocorrem em águas continentais, no sul da América do Sul. O
gênero é composto por mais de 70 espécies, caracterizadas em sua maioria por possuírem
distribuições restritas. Ao contrário deste padrão, as espécies Aegla longirostri e Aegla platensis
possuem distribuições geográficas amplas. Além disso, ambas as espécies formam agrupamentos
não-monofiléticos, o que pode indicar que esses agrupamentos são formados por espécies
crípticas. Portanto, o objetivo deste estudo foi analisar populações de A. longirostri e A. platensis
através de técnicas de morfometria geométrica, visando esclarecer suas relações intraespecíficas.
Para A. longirostri, foram analisados 120 indivíduos provenientes de seis populações, totalizando
20 animais de cada população. Para A. platensis, foram analisados 110 indivíduos provenientes de
11 populações (quatro argentinas e sete brasileiras), totalizando 10 animais de cada população.
Para ambas as espécies, os animais foram fotografados em vista dorsal e foram selecionados 19
marcos anatômicos localizados na carapaça. Ambos os lados da carapaça foram simetrizados e as
coordenadas dos marcos anatômicos foram sobrepostas. Variações no tamanho do centroide foram
testadas através de análise de variância (ANOVA) de um critério e teste de Tukey. Para A.
longirostri, também foi utilizada ANOVA de Procrustes. Variações na forma da carapaça foram
exploradas através de análise de componentes principais (PCA), e posteriormente através de
análise linear discriminante (LDA) e análise de variáveis canônicas (CVA), com base nos 8
primeiros componentes principais. Foi calculada a distância de Mahalanobis entre as populações.
Variações na forma da carapaça foram testadas através de análise de variância multivariada
(MANOVA) e MANOVAs par a par seguidas por correção de Bonferroni. Para A. longirostri,
CV1 e CV2 corresponderam a 46,5% e 23,1% da variação, respectivamente. A população mais
distante geograficamente apresentou os maiores valores de distância de Mahalanobis. As
MANOVAs par a par demonstraram que todas as populações de A. longirostri diferem
significativamente na forma da carapaça. Para A. platensis, CV1 e CV2 corresponderam a 28,5%
e 22,2% da variação, respectivamente. Houve uma separação entre as populações argentinas e
brasileiras, com valores de distância de Mahalanobis maiores entre as populações dos dois países.
As MANOVAs par a par demonstraram que todas as populações de A. platensis diferem
significativamente na forma da carapaça, com exceção de um par de populações argentinas e um
par de populações brasileiras. Algumas características dos eglídeos indicam que esses animais
possuem baixo potencial de dispersão, portanto, a distância geográfica pode ter levado à
interrupção do fluxo gênico entre as populações. Somada à ausência de monofilia, a diferença
intraespecífica na forma da carapaça em A. longirostri e A. platensis pode ser um indício de que
populações de ambas as espécies estão fragmentadas.